Meu artigo publicado na edição de hoje (13/2/2014) do O POVO.

Ilustração: Hélio Rôla

Ilustração: Hélio Rôla

Os assassinos da democracia
Plínio Bortolotti

A violência dos black blocs e a truculência da polícia são duas faces da mesma moeda antidemocrática. E os que defendem a selvageria dos arruaceiros alegando a brutalidade dos policiais, igualam-se a eles. Os bate-paus das manifestações tentam desvincular-se dos homens que dispararam o rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade, alegando que os black blocs não são um grupo, mas uma “tática”.

Deviam, pelo menos, ter a coragem de assumir as consequências da “tática” que disseminam contra os “símbolos do capitalismo”, e admitir que a coerência dessa lógica levou à morte de um trabalhador. Ou podem podem incorporar o argumento do “império” que combatem, alegando que a morte de Andrade foi um “dano colateral”, pois ele não era o alvo. Ou, talvez, pelo avesso, podem tomar emprestado os argumentos da Al Qaeda, para quem não existem inocentes fora das fileiras fundamentalistas.

Dessa desgraça, estão se aproveitando também os pescadores de águas turvas. Já há colunistas “de grife”, a exemplo do imortal Merval Pereira (O Globo), que passou a classificar os atos violentos de “terrorismo” (aqui). São dois desvarios: o dos arruaceiros (agora responsáveis por um homicídio) e classificar de “terroristas” essas atitudes.

Não por acaso, foi pedida urgência para a tramitação do projeto de lei 499/2013, que tipifica os “crimes de terrorismo” como “ato de provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa à integridade física, à saúde ou à liberdade da pessoa”. Com uma generalidade dessas, qualquer manifestação poderá ser caracterizada como criminosa. Nem a ONU, que estuda o caso desde 2004, conseguiu ainda chegar a um consenso sobre a tipificação de terrorismo.

É preciso estar atento, pois há muita gente doida para fornecer argumentos aos obcecados por uma nova Marcha da Família com Deus pela “Liberdade”.

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