Meu artigo, publicado na editoria de Opinião, do O POVO, edição de 13/3/2014.

Ucrânia, Venezuela: bom senso
Plínio Bortolotti

O fla-flu político do Brasil está se internacionalizando. Em qualquer assunto, ocorrido em qualquer parte do mundo, se estabelece a disputa cega entre dois campos antagônicos, ambos armados de argumentos definitivos. A análise com um mínimo de isenção, o debate, uma possível conversa que poderia ser enriquecedora, vai para o espaço. A propósito, os ETs seriam de “esquerda” ou de “direita”?

Porém, como demonstra a situação da Ucrânia, a realidade sempre é mais complexa do que a gritaria que se estabelece nas redes sociais. A queda do governo não implicou a pacificação do país; demonstrando que, muito provavelmente, nem o governo deposto e nem os manifestantes tem a maioria da população ao seu lado. E o problema se apresenta bem maior do que aderir ou deixar de aderir à União Europeia.

Mas é na Venezuela, nossa vizinha, que as coisas pegam fogo, lá e aqui. Para um lado, os chavistas são pouco menos do que santos; do outro, tem parte com o próprio demo. Ou nada se aproveita da dita “revolução bolivariana” ou Hugo Chaves deve ser entronizado como um herói dos pobres e oprimidos.

O fato é que não é necessário endeusar e nem demonizar ninguém para se vislumbrar a possiblidade de uma saída democrática e negociada para a crise, rumo para o qual o próprio presidente Nicolás Maduro está sendo empurrado e também para o qual aponta a oposição moderada, representada por Henrique Capriles. Mas a oposição extremista sentiu o gosto de sangue e quer nada menos que “la salida” de maduro – e os “coletivos” chavistas aportam a sua contribuição para sabotar qualquer tentativa de acordo.

O bom senso diz que a disputa política pode ser resolvida nos marcos da Constituição na Venezuela e com negociação na Ucrânia. A ressalva é que, como disse René Descartes no Discurso sobre o método, o bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo: todos pensamos tê-lo em muito boa medida.

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