Meu artigo publicado na edição de hoje (3/4/2014) do O POVO.

Arte: Hélio Rôla

Arte: Hélio Rôla

Iluminando as sombras
Plínio Bortolotti

É difícil entender (talvez nem tanto, pelo modo como continuam a ser formados) por que a nova geração de militares ficou presa ao passado, carregando nas costas o pesado fardo dos erros e crimes cometidos por seus antecessores.

Primeiro porque não existe uma única instituição (ou pessoa) que possa se gabar de nunca ter cometido um erro no percurso de sua vida; segundo (porém mais importante), é que os crimes cometidos por alguns militares no período da ditadura foram muito graves.

A sociedade brasileira nunca estará pacificada se não acertar a conta dessa ferida, que continua aberta e sangrando, e foi provocada pelas torturas, mortes e desaparecimentos, consumados por integrantes das Forças Armadas.

Certos adeptos do regime militar alegam que do “outro lado” estavam “terroristas” e “bandidos”, que tinham de ser combatidos com firmeza. Mesmo aceitando o argumento – apesar de a repressão ilegal não ter-se limitado aos oponentes armados – continua sendo inaceitável que agentes do Estado tenham se arrogado o papel de agir brutalmente, à margem (ou acima) de qualquer lei, mesmo as que prevaleciam no período ditatorial. Esse tipo de argumento volta-se contra quem o avoca, pois equivale a aceitar que é preciso transformar-se em bandido para combater a bandidagem.

A notícia de que as Forças Armadas vão instaurar comissões de sindicância para investigar a prática de tortura dentro das instalações militares é um primeiro passo para que a instituição comece a desvelar essa parte de sua história.

As Forças Armadas – já muito respeitadas pelos brasileiros -, serão muito mais, se conseguirem exconjurar essa sombra que paira sobre a instituição, de modo que as novas gerações de militares livrem-se de um mal que não cometeram. E, ainda, favorecendo a reconciliação geral; particularmente, com aqueles que padeceram diretamente do sofrimento físico e moral, que lhes foi imposto pelo arbítrio.

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