Reprodução da coluna “Política”, edição de 8/5/2014, do O POVO.

O PT e a mídia
Plínio Bortolotti

Documento assinado por Rui Falcão, presidente nacional do PT, classifica os meios de comunicação como “mídia monopolizada, que funciona como verdadeiro partido de oposição”. Reconheça-se que a imprensa brasileira – principalmente rádio e TV, que são concessões públicas – teria de ser mais diversa, tanto em suas equipes de colunistas como nos assuntos que cobrem. A programação de uma TV é, basicamente a repetição de outra; ouvir um comentarista é como ouvir todos eles.

Por outra vista, a imprensa não é o “locus do mal”, feita apenas defeitos e nenhuma qualidade. É preciso pôr na balança suas falhas e seus acertos, de modo a se fazer uma avaliação equilibrada, que nunca deve levar à gritaria pelo “controle” do noticiário ou à censura. O limite da crítica à imprensa é o mesmo da crítica à democracia: não se pode viver sem elas. Não existe democracia sem imprensa livre e nem imprensa livre sem democracia. A mais, o período eleitoral é pior momento de fazer esse tipo de debate. Os ânimos se acirram, as acusações agravam-se, a algazarra aumenta – e não se chega a lugar nenhum.

Além disso, duas coisas: 1) por que a esquerda, que vive se queixando da “imprensa burguesa”, nunca teve a capacidade de construir um jornal de grande circulação, que pudesse emparelhar-se com os meios de comunicação “comerciais”?; 2) por que, em oito anos de governo, o PT não investiu com intensidade na proposta de regulamentação da mídia (não confundir com censura, nem com “controle”), de modo que se pudesse estabelecer um estatuto mais democrático, do mesmo modo que foi feito com a internet?

Culpar a imprensa é fácil, alvo sempre disponível; admitir os próprios erros é um pouco mais difícil.

UMA CORREÇÃO…
Na nota principal na coluna de ontem, “Injustiça tributária”, cometi imprecisão, ao não avisar que a correção da tabela do Imposto de Renda em 4,5% valeria apenas para o ano de 2015. O ajuste foi anunciado pela presidente Dilma Rousseff, que enviou uma medida provisória com a proposta ao Congresso. Portanto, para o ano-base corrente, prevalece a tabela antiga, que começa a tributar salários de R$ 1.787,78 em 7,5%, indo até o percentual de 27,5% para vencimentos a partir de de R$ 4.463,81. Ou seja, a injustiça da tributação é maior do que anunciei ontem.

… E UM ACRÉSCIMO
Positiva para o contribuinte, pois o ajuste no índice faz cair o imposto a recolher, a oposição também quer tirar a sua casquinha. O senador Aécio Neves (PSDB) disse que vai propor uma emenda para que a tabela seja corrigida em 6%. A medida, lançada por Dilma no “pacote de bondades” pré-eleitoral, junto com o aumento do Bolsa Família, pode virar uma armadilha: se a bancada situacionista votar contra a proposta de Aécio, arcará com o ônus de uma atitude impopular; se votar a favor, o bônus da aprovação será do senador, pré-candidato a presidente da República.

O PREFERIDO
Simulação do Valor Econômico mostra o senador Aécio Neves (PSDB) como candidato preferido dos empresários. Consulta com 103 executivos de grandes empresas apresentou 70% dos votos a favor do senador mineiro; Eduardo Campos (PSB-PE) ficou com 16,5%; e a presidente Dilma Rousseff (PT) com 3%.

LÍDER
Em uma época em que políticos deixam-se guiar por pesquisas de opinião e submetem-se docemente a marqueteiros, o presidente do Uruguai, José Mujica, mostra como deve agir um líder. Reconhecer sua coragem política, independe de concordar-se ou não com ele. Enfrentando a opinião da maioria, Mujica propôs e conseguiu legalizar a maconha, sob severa regulamentação.

Porém, ele mesmo recomenda cautela, considerando a aprovação de lei um experimento, que precisará ser avaliado mais à frente. A certeza dele é que o caminho da repressão não deu certo, sendo necessário buscar alternativas. A propósito, 60% dos uruguaios manifestavam-se contra a legalização, porém, pesquisas recentes indicam que 51% deles preferem manter a lei como está para ver se funciona, antes de pedir sua revogação.

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