Reprodução da coluna “Política”, edição de 15/5/2014 do O POVO.

Campanha está liberada, mas com palavras proibidas
Plínio Bortolotti

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Dias Toffoli, deu a senha: ele só considera propaganda eleitoral se o postulante a cargo público falar em eleição. “Se não há pedido de votos, não há campanha. A campanha é quando você diz ‘tenho o número tal, vote em mim’”. Portanto, estabeleceu-se o liberou geral em relação à lei que proíbe campanhas eleitorais até o dia 5 de julho.

O ministro está certo, essa lei é uma daquelas leis que (como muitas no Brasil) nunca “pegou”. E, a rigor, faz mesmo pouco sentido, pois é muito difícil separar o que é e o que não é campanha eleitoral. Se o senador Aécio Neves (PSDB) visita um estado, encontra-se com empresários, ele está fazendo campanha ou é uma ação entre amigos? Se o governador Eduardo Campos reúne-se com dirigentes sindicais para conversar com eles, está querendo votos ou é um encontro social? Se Dilma Rousseff (PT) visita uma obra, cumpre seus deveres presidenciais ou está de olho na reeleição?

A meu ver, todos fazem campanha, mas, se lhes perguntarem, dirão o contrário, pois sagazes. Portanto, o importante é que o critério de Toffoli seja aplicado de maneira equânime. Em assim sendo, é jogo jogado.

COINCIDÊNCIAS
Outubro de 2009. Dilma Rousseff era chefe da Casa Civil, “mãe do PAC” e candidata a suceder Luiz Inácio Lula da Silva, quando o então presidente esteve no Ceará, conferindo as obras da transposição do Rio São Francisco. A visita rendeu uma bela foto de Lula, caminhando dentro de um canal em construção, o céu azul ao fundo. À época, a obra estava prevista para ser entregue em 2012.

Maio de 2014. A obra ainda está em andamento; a agora presidente Dilma Rousseff, vem conferir o empreendimento. A fotografia destacada na matéria deste jornal é de Dilma caminhando dentro de um túnel. Ela faz promessa para entregar a obra em 2015, justificando o atraso pela “complexidade” dos trabalhos. Nas duas ocasiões, repetiram-se dois acompanhantes: os irmão Cid e Ciro Gomes.

O que se espera é que em 2018, novamente véspera de eleição, candidato ou presidente apresente-se para a “visita técnica” da obra já concluída.

MARINA DE NOVO
Na nota “Marina”, publicada ontem, afirmei haver pouco em comum entre Marina Silva (Rede Sustentabilidade) e Eduardo Campos (PSB), este (pré)-candidato a presidente e ela a vice, na mesma chapa. Acrescentei que Marina teria pouca influência no governo, caso fossem eleitos, pois vice é uma espécie de reserva que o titular nunca deixa entrar em campo. A respeito, recebi a seguinte resposta de Ricardo Alcântara, que ressalva falar como militante da Rede e não como seu porta-voz:

“Eduardo Campos e Marina Silva têm, em comum, um traço fundamental: ambos são lideranças históricas do campo democrático e popular (ela, com Lula; Ele, com Miguel Arraes). Portanto, é importante destacar que o ‘político tradicional’ Eduardo Campos é, ‘tradicionalmente’, um aliado desta parcela progressista da política partidária no Brasil e, pelo menos neste sentido, Marina Silva não é menos ‘tradicional’ que ele. A aliança do PSB com a Rede se dá com base em um programa comum que incorpora princípios de sustentabilidade aos compromissos de governo, em caso de vitória. Quanto ao ‘novo ativismo’, precisamente por ser novo, ele é maior do que todas as lideranças já postas, juntas. Mas, como já lembrou a Marina, ‘na história, o novo não surge do nada’ e, assim, há sempre a possibilidade de que um elemento ‘tradicional’, não inteiramente superado, possa transpor seus limites e adaptar-se aos novos tempos. Não será um fenômeno inédito, caso aconteça, como esperamos.”

Seria desigual treplicar na sequência, pois estou em vantagem, com o teclado à mão. Entanto, não resisto em repetir um dito de meu avô, quando via jovens casais entre beijos e afagos: “Están comiendo el pan de la boda”, ditado espanhol que quer dizer mais ou menos o seguinte – eles ainda estão comendo do bolo de casamento (no caso, de noivado).

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