Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião do O POVO, edição de 12/6/2014.
A Copa da contradição
Plínio Bortolotti
Amigos, começa hoje a Copa do Mundo. Muita gente deve estar se preparando para ver a festa de abertura e o jogo do Brasil contra a Croácia. Já escrevi neste jornal que pouco me importo com futebol, isto é, quem ganha ou perde: gosto da plasticidade do jogo, da inteligência que ele demanda dos jogadores: é um dos poucos esportes que consigo ver por mais de dez minutos na televisão.
Logo, nunca fui entusiasta de times, nem mesmo da seleção, e já cheguei a me inclinar a ficar contra, quando havia unanimidade a favor. Porém, quando vejo a maré condenatória à Copa, aflora meu espírito antimanada. Sou adepto da tirada do mestre Machado de Assis: “Há muitos modos de afirmar; há um só de negar tudo”.
Não significa que concorde com tudo o que se faz em nome do Mundial. Para começar, defendo o princípio democrático de que grandes eventos têm de ser precedidas de consulta popular. O governo deveria ter posto as cartas na mesa, gastos, exigências da Fifa etc., e perguntado: “Caros brasileiros, vocês querem uma Copa nessas condições?” Se a resposta fosse positiva, bola pra frente – e ninguém poderia reclamar.
Pesquisa do instituto Data Popular mostra que 51,8% estão contra a Copa no Brasil, porém o percentual dos que vão torcer pelo escrete canarinho sobe para 86%. Ou seja, as pessoas sabem apartar o governo do apoio que emprestam a um símbolo nacional (goste-se ou não o selecionado representa isso). Por isso, além de delirante, nesta altura do campeonato, a consigna “Não vai ter Copa” é um tiro no pé de quem quer usá-la para bombardear o governo.
A consulta revela uma contradição entre ficar contra a Copa e ao mesmo tempo torcer pelo time. Para torcer pelo Brasil é preciso ter jogo e para ter jogo é preciso que o Mundial se realize. Portanto, se a pergunta fosse esta: “Você é favorável que a Copa seja suspensa?” O eventual leitor apostaria em qual resposta?
Ultimamente tenho visto eventos dessa natureza – especialmente no Brasil – mais como uma ação inserida na política do “pão e circo”, acrescida da ideia de “um grande negócio”, do que a promoção de ação de “puro lazer”, “cultural”, etc… A par disso, ressalto que tive de acompanhar um familiar ao primeiro evento do Fan Fest o que mais me reforçou a ideia do “pão e circo” com o agravante de uma verdadeira apropriação do espaço público para interesse interesse privado. Aproveito o azo para sugerir assistirem – que não o fez – ao programa roda viva, com Juca Kfouri, disponível no Youtube.
É isso aí…
É óbvio que o “Não vai ter copa” não pode ser interpretado literalmente, pois todos sabem que acontecerá o evento (os lucros são muito grandes, não dá pra abrir mão….). Não sei se de forma tendenciosa, mas os jornalistas quase sempre interpretam ao pé da letra.
Caro Paulo,
Fique a vontade para nos ensinar como o “Não vai ter Copa” deve ser interpretado.
Agradeço o comentário,
Plínio
Estou à vontade (gramática, meu caro…)… você tem futuro…
Fique à larga também para fazer correções gramaticais, professor Pasqua…, quero dizer Paulo.
Agradeço,
Plínio