Reprodução do artigo publicado na edição de 24/7/2014, do O POVO.

O país das extravagâncias
Plínio Bortolotti

Neste Brasil brasileiro, o excesso parece contaminar todas as áreas. Na política, nem se fala, pois tornou-se o terreno do bizarro. Depois que a Folha de S. Paulo mostrou que o candidato a presidente Aécio Neves (PSDB), quando governador de Minas Gerais, construiu um aeroporto nas terras de um tio-avô, com fortes indícios de que a obra beneficia apenas a ele e à família, a “mídia independente”, porém petista, levantou a suspeita: seria a “cota” de denúncias contra o PSDB para deixar o jornal livre para atacar o PT.

Esses “críticos” traçam um círculo de ferro para a “imprensa burguesa”, do qual é impossível escapar: se um fato deixa de ser noticiado, o motivo é escondê-lo para beneficiar a “oposição”; se publicado, visa a preparar fraude maior. Como resolver o paradoxo?

Vejamos outro fato. A ação “black bloc” precisa ser contida, pois é inadmissível que cada manifestação se transforme em violência gratuita; democracia pressupõe aceitação de regras de convivência.

Assim, é lógico que, identificados, e com a apresentação de evidências, os autores de quebra-quebra deveriam ser chamados à Justiça para responder pelos seus atos. Agora, prendê-los preventivamente, equiparar a ação deles a “terrorismo”, como querem alguns, equivale ao descomedimento da advogada que pediu asilo na embaixada do Uruguai, considerando-se “perseguida política”.

Em boa hora, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), lembrou que prisão preventiva é para casos excepcionais. “Não devemos esquecer que a prisão preventiva é sempre uma exceção e não uma regra. Não consigo vislumbrar nessas manifestações, criminosos, pessoas perigosas”. Ele criticou ainda o método de “primeiro prender” para depois ver o que há de errado, quando deveria ser o inverso. “Não vejo por que uma ordem de prisão nesse momento antes de instaurar inquérito. Para mim é extravagante”.

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