Artigo publicado na edição do O POVO de 30 de outubro de 2014.
Nordestinos, esses vagabundos
Plínio Bortolotti
Raramente respondo a provocações contra nordestinos nas redes sociais, pois considero impossível dialogar com a loucura. Porém, quando o editorial de jornal do porte do O Globo equipara-se aos aloprados virtuais, chega a hora de confrontar a insanidade, antes que ela atinja o nível de um tsunami que poderá engolfar todos os brasileiros.
Pode parecer inacreditável, mas o editorial do jornal carioca (28/10/2014), entre outras sandices, registra o seguinte, a respeito da eleição presidencial:
“O desenho esboçado no primeiro turno, com a divisão do país em dois grandes blocos, recebeu traços mais fortes: grosso modo, o Norte-Nordeste perfilado ao PT, o Sudeste/Sul/Centro-Oeste com a oposição.
Fica evidente que o país que produz e paga impostos — pesados, ressalte-se — deseja o PT longe do Planalto, enquanto aquele Brasil cuja população se beneficia dos lautos programas sociais — não só o Bolsa Família —, financiados pelos impostos, não quer mudanças em Brasília, por óbvias razões.”
Parece muito evidente que a “razão óbvia” conjurada pelo O Globo é que o nordestino é, antes de tudo, um vagabundo. Porém, além do equívoco conceitual, o editorial comete crassos erros factuais – como sugerir que se paga imposto somente de Minas Gerais para baixo – o que torna ainda mais inaceitável, apesar de ridículas, a conclusão preconceituosa do jornal.
Uma análise, ainda que superficial, mostra que somente aqueles acometidos por uma terrível cegueira ideológica poderiam pintar o Norte-Nordeste de vermelho e o sul maravilha de azul: o que se vê é uma mistura das duas cores, um lilás, um pouco mais escuro em alguns lugares, um pouco mais claro em outros. É uma imagem matizada, tão diversa e colorida como é a sociedade brasileira, que uma parte da “elite branca” ainda teima em rejeitar.
PS. Leia também sobre o assunto o artigo do Economista Cláudio Ferreira Lima, A história se repete.
[Arte: Hélio Rôla]
Hoje quando voltava do trabalho escutando a rádio o povo/cbn ouvi sobre seus comentários sobre essa questão da xenofobia. Será que realmente você entendeu o recado do povo “sulista”? Acredito que não. Sou nordestino e não sou a favor de alguns tipos de comentários ofensivos a nordestino. Mas entendo a revolta. O motivo dos ataques não seria somente por terem votado em Dilma, até pq RJ e MG tmb deram maioria a ela, mas a discrepante diferença de Dilma para Aécio nos Estados nordestinos. RJ e MG deram maioria a ela mas veja que não tem uma diferença tão larga. No ano passado o estado de São Paulo arrecadou cerca de 285bi em tributos federais. Sabe quanto governo federal repassou para o estado de SP? 23bi. Vc acha justo um estado arrecadar tudo isso é não receber 10% de volta? Gravei sua fala no programa, e ouvindo com mais calma, vc tmb cometeu preconceito. Deu piada com relação aos Paulistas com o problema de falta d’água. Não é pq sou nordestino que vou defender, entendo os motivos deles. Não sou a favor dos ataques mas compreendo a revolta. Procure averiguar melhor os motivos antes de sair falando, somente por ser nordestino.
Caro Adriano,
Entendi direitinho o recado de muitos do Sul/Sudeste/Centro-Oeste, como diz O Globo: eles acham que os nordestinos vivem às custas deles. Se v. aceita essa pecha, bom para você.
Plínio
Beleza, Plínio. Bem pensado e bem escrito.
Plínio, nós Cearenses- Nordestinos, nos orgulhamos de você : Cearense que escolhemos !
Cara Paula,
Tenho orgulho de ser cidadão cearense de fato e de direito; de fato por ter escolhido o Ceará, estou há mais de trinta anos na terra de Alencar, de Bárbara e José; de direito, por ter recebido o título de Cidadão Cearense da Assembleia Legislativa (2011). Em tempo: o propositor da homenagem foi o então deputado Adahil Barreto, com quem só tinha relação jornalista/fonte, e nem sempre tranquila, principalmente no período em que ele foi candidato a prefeito de Fortaleza (2008). Apesar de alguns embates, ao me avisar da proposição, ele disse que reconhecia isenção e ética no meu trabalho.
Plínio
O artigo criticado, deve ser repelido, em vista aos erros cometidos, porém o senhor cometeu o mesmíssimo erro, sendo preconceituoso também ao usar essa infeliz expressão ” elite branca”. Além disso não vi a palavra vagabundos escrita no artigo criticado, saiu de sua escrita. Esse artigo pretendia fazer alguma defesa? pra mim só consegue aumentar a cisão. Em tempo, sou nordestino.
Caro Plínio, como já disse outras vezes, fazes parte de uma geração brasileira que perdeu-se na gororoba esquerdista. Tenha santa paciência…
Vejam os 15 Estados em que Dilma venceu no segundo turno, o seu percentual de votos (primeiro número) e o percentual de famílias atendidas pelo Bolsa Família (segundo número). Os dados são do TSE (desprezei os algarismos depois da vírgula) e do Ministério do Desenvolvimento Social (setembro de 2014). Maranhão (78-58), Piauí (78-54), Ceará (76-47), Bahia (70-47), Pernambuco (70-47), Rio Grande do Norte (69-40), Sergipe (67-49), Paraíba (64-50), Amazonas (64-43), Alagoas (63-53), Amapá (61-33), Tocantins (59-38), Pará (57-46), Rio de Janeiro (54-17) e Minas (52-21).
Agora seguem os Estados em que Dilma perdeu, com os mesmos dados: Santa Catarina (35-07), São Paulo (35-11), Acre (36-42), Distrito Federal (38-12), Paraná (39-13), Goiás (42-19), Mato Grosso do Sul (43-21), Rondônia (45-26), Mato Grosso (45-22), Rio Grande do Sul (46-13), Espírito Santo (46-19) e Roraima (42-47).
Caro Renato,
Supondo que eu fizesse parte de uma geração que se “perdeu na gororoba esquerdista” (talvez uma parte dela tenha se perdido na “gororoba extrema-direitista”, não?), fico sem saber onde você enquadraria o economista Cláudio Ferreira Lima (cujo artigo recomendo no texto que escrevi), que foi secretário de Planejamento do governo Tasso Jereissati.
Plínio
Onde está meu cometário? Censura?
Caro Adriano,
Neste blog não faço “censura” – eu só não publico xingamentos e ofensas contra quem quer que seja. Não é o caso do seu comentário, que está sendo liberado agora, juntamente com outros cinco. É que nem sempre tenho tempo de verificar a toda hora este blog.
Agradeço pela sua opinião.
Plínio