Reprodução do artigo publicado na coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 25/1/2015, do O POVO.

Carlus.1Os políticos, os filhos e a parentela
Plínio Bortolotti

Na guerra da eleição presidencial do ano passado vieram à tona algumas informações da biografia do candidato Aécio Neves (PSDB) que ele preferia não ostentar. Pegaria mal para um defensor intransigente da “meritocracia” lembrar que ele fora nomeado, aos 25 anos de idade, diretor de Loterias da Caixa Econômica Federal, sem nenhum indicador de que tivesse competência para o cargo.

Porém, antes de chegar à Caixa, Aécio já vinha sendo premiado com cargos públicos desde os 17 anos, por influência do pai e do avô, Tancredo Neves. Havia ainda o agravante de que eram funções que deveriam ser exercidas na capital federal, mas ele morava no Rio. O lamentável é que Aécio nunca foi exceção, mas a regra na história pátria, que nem a lei antinepotismo conseguiu extirpar.

Os novos governadores, que assumiram no dia 1º de janeiro, deram sequência a essa lamentável tradição patrimonialista, entranhada nos costumes políticos brasileiros, mal que acomete todos os partidos. Atendo-se somente à nomeação de filhos de políticos, este jornal publicou (19/1/2015) que pelo menos “12 jovens sem experiência em gestão pública” ganharam cargos públicos importantes em seis estados.

No Rio de Janeiro, o deputado federal eleito Marco Antônio Cabral (PMDB-RJ), 23 anos, filho do ex-governador Sérgio Cabral, foi nomeado para a secretaria estadual de Esportes. Às vésperas da Olimpíada, ele terá garantida ampla visibilidade. O Rio é governado por Luiz Fernando Pezão, do PMDB.

A Bahia, comandada por Rui Costa (PT), garantiu a nomeação de quatro filhos de aliados ou de partidos que o governador quer atrair para o seu lado. Entre eles, o filho do senador Otto Alencar (PSD) para a agência de fomento do estado e o filho de Guilherme Bonfim, ex-deputado federal, atualmente conselheiro do Tribunal de Contas.

No Paraná, o cargo de na companhia de saneamento, passou de mãe para filho, sai Emília Belinatti e assume o filho Antonio Carlos, cujo pai já foi prefeito de Londrina pelo PP. O governador é Beto Richa (PSDB).

No Piauí, governado por Wellington Dias (PT), o filho do ex-deputado federal Nazareno Fonteles, do mesmo partido do governador, assume a secretaria da Fazenda. Soraya Castelo Branco, filha do ex-prefeito de Parnaíba (PTB), será ouvidora-geral do estado.

No Rio Grande do Sul, Gabriela Markus, ex-Miss Brasil, filha do vereador Wilson Marques (PMDB), assume como secretária-adjunta de Turismo e Lazer. O estado é governado por José Ivo Sartori (PMDB)

Mas quem caprichou mesmo na caneta amiga da parentela foi a governadora Suely Campos (PP), de Roraima, nomeando 19 pessoas da família, contagem feita pelo Ministério Público, entre eles duas filhas, presenteadas com secretarias de destaque.

Muito provavelmente, se o levantamento fosse mais extensivo, muito mais se encontraria. Imaginem as Assembleias Legislativas das 27 unidades da federação; pensem nas prefeituras dos mais de cinco mil municípios brasileiros, com suas respectivas Câmaras Municipais. Tantas histórias, tantos parentes, tantos amigos e aderentes.

NOTAS

Minha casa…
O jornal O Estado de S. Paulo (17/1/2015 ) publicou reportagem mostrando que cinco ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), cinco do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e quatro integrantes do Conselho Superior do Ministério Público, proprietários de imóveis “nos bairros mais caros de Brasília”, estão recebendo auxílio-moradia de R$ 4,3 mil por mês.

…meu aluguel
O fato é que eles estão rigorosamente dentro da lei, pois o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar decidindo pelo benefício ao Judiciário, privilégio que depois foi estendido ao Ministério Público e à Defensoria Pública. Legal está; porém, é justo? O assunto vai ser analisado pelo pleno do STF, ainda sem data marcada.

Correção
No artigo da semana passada “De burca na praia, com Charlie Hebdo” atribuí a autoria do texto, objeto de minha crítica, ao padre Antonio Piber, seguindo anotação do blog de Leonardo Boff, que o reproduziu. Depois, o próprio Boff fez a correção, anotando que o texto era de Rafo Saldanha, com “acréscimos” do padre. Quando tomei ciência da correção, o artigo já havia sido editado. De qualquer modo, não altera as críticas que fiz no meu texto.

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