Reprodução do artigo publicado na coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 8/3/2015 do O POVO.

carlusProposta para a criação de um novo partido
Plínio Bortolotti

A exemplo daqueles pais e filhos muito parecidos e que, por isso mesmo, vivem às turras, com o PT e PSDB está acontecendo fenômeno semelhante. Nascidos em circunstâncias muitos diferentes, retas paralelas, parece que o ângulo vêm se fechando, o que indica um encontro de políticas. Porém à medida que ficam mais parecidos, as brigas e acusações de parte a parte se tornam mais acirradas, como se os dois quisessem negar a realidade. De ambos se ouvirá que um copiou a política do outro. O PT dirá que o Partido da Social Democracia Brasileira passou a defender suas políticas sociais; o PSDB dirá que o Partido dos Trabalhadores assumiu vários aspectos sua política econômica. Ambos parecem ter razão.

(No quesito “escândalos”, há arsenal suficiente para uma guerra prolongada de ambos os lados.)

Privatizações
Depois de muito apanhar, sob a acusação de querer privatizar a Petrobras, o PSDB jurou na última campanha presidencial que isso não estava nos planos do partido. Pelo contrário, iriam eles “reestatizar” a companhia, que estaria a serviço dos interesses particulares do PT.

Porém, recentemente um dos líderes do partido, o senador José Serra (SP) veio a público para dizer que o governo deveria vender algumas empresas pertencentes à Petrobras para a iniciativa privada, preservando estatizadas apenas a sua “função básica” de prospecção, extração e produção de petróleo. Militantes do PT apressaram-se a divulgar que a proposta do senador paulista era a “confirmação” da tese petista de que o escândalo da Petrobras está sendo inflado pela “mídia golpista” para facilitar a privatização da empresa.

Abstraindo-se o fato de que se não houvesse roubo não haveria escândalo, há mais um problema no argumento petista. Em dezembro do ano passado, a presidente Dilma Rousseff anunciou a disposição de abrir o capital da Caixa Econômica Federal, o que para a ortodoxia de esquerda equivale à privatização, só que não houve a mesma grita por parte dos petistas. E a Caixa, é preciso reconhecer, caso transformada em uma S/A, corre risco de privatização maior do que a Petrobras atravessaria desfazendo-se de algumas empresas do grupo. Sim, pois a caixa é um banco social – com funções bem específicas – e o governo já tem um estabelecimento comercial, o Banco do Brasil: para que precisaria de dois?

Programas sociais
Quanto aos programas sociais, especialmente o Bolsa Família, os tucanos atacaram o programa em seu nascedouro, tachando-o “eleitoreiro” e de “esmola presidencial” a serviço de um “populismo rasteiro”. Durante a campanha, acusado de querer acabar com o Bolsa Família, o PSDB transformou-se em seu defensor desde criancinha, inclusive propondo uma lei para transformá-lo em “programa de Estado”.

Por sua vez, ao ser reeleita, Dilma “esqueceu-se” de algumas propostas de campanha, nomeou um ministro da Fazenda, Jaquim Levy, que poderia tranquilamente servir a um governo do PSDB, e começou a aplicar algumas medidas que, se estivesse na oposição, o PT chamaria de “neoliberais”.

Portanto, o que se vê é uma espécie de amálgama de dois programas parecidos convivendo esquizofrenicamente em partidos separados. Assim sendo, o melhor seria a fusão entre os dois partidos. Tenho até uma proposta de nome para a nova sigla: Partido dos Trabalhadores da Social Democracia Brasileira (PTSDB); e o símbolo poderia ser um tucano com uma estrela no bico ou uma estrela com um tucano no centro.

NOTAS

O juiz cordial
Recentemente escrevi artigo neste espaço a respeito do ensaio O homem cordial, de Sérgio Buarque de Holanda (http://migre.me/oCiFO). O espantoso caso do juiz Flávio Roberto de Souza, que usava do carro de Eike Batista, que o próprio magistrado mandara apreender, enquadra-se no “tipo primitivo” de costumes sobre os quais falava o historiador.

A mulher cordial
No mesmo artigo citado na nota anterior, comentei o também assombroso caso de um candidato a presidente da Câmara dos Deputados que prometeu às mulheres de parlamentares que elas teriam direito a passagem aérea, paga com dinheiro público, para visitar seus maridos em Brasília. Promessa feita, promessa cumprida. Eleito, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) atendeu o pedido das senhoras.

Pródigos parlamentares
A propósito, entre fevereiro de 2011 e 15 de janeiro de 2015, mais de R$ 753 milhões de recursos públicos foram gastos por deputados e senadores com passagens aéreas, hotéis, refeições, aluguel de escritórios e veículos, combustíveis, entre outros itens. Sem licitação. O levantamento é da Revista Congresso em Foco (http://migre.me/oNxag).

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