Reprodução do artigo publicado na edição de 21/5/2015 do O POVO.

Hélio RôlaMacho e fêmea: assim caminha a humanidade
Plínio Bortolotti

A atriz Marieta Severo, 68 anos, deu uma entrevista para o jornal O Globo (19/5/2015), na na qual fez uma espécie de desabafo, declarando-se contra a redução da maioridade penal:

“Sou contra muita coisa que está em evidência e que, para a minha geração, é chocante. Há um retrocesso que nunca imaginei. Sou da década de 1960, do feminismo, da liberdade sexual, das igualdades todas. Quando você tem essas conquistas, a tendência é achar que elas estão conquistadas dali para a frente. Quando volta esse moralismo, e esse mundo religioso começa a ditar as regras, é muito assustador”.

(Infelizmente, como percebeu Marieta, a história não é uma linha reta, evolutiva. Se assim fosse, depois de sete milhões de anos caminhando sobre a Terra, no mínimo, não existiriam tantos representantes da espécie humana ainda preocupados como o que dois adultos, consensualmente, fazem na intimidade.)

Apontando para o Congresso, a atriz disse que “temos um conservadorismo no ar”, no que ela tem razão, a partir do presidente da Câmara. Eduardo Cunha (PMDB) chegou ao requinte de proibir a divulgação – mandando retirar cartazes – do Seminário LGTB do Congresso, que está em sua 13ª edição, e pela primeira vez recebe um veto.

Na aprovação de Luiz Edson Fachin, ao Supremo Tribunal Federal, o único senador a discursar foi Magno Malta (PR), para deblaterar sobre um suposto liberalismo do novo ministro em relação a temas comportamentais.

Pastor evangélico, Malta já discursou contra o projeto que criminaliza a homofobia, argumentando ter Deus criado “macho e fêmea” e que o Senado não poderia criar um “terceiro sexo”.

Pelo seu linguajar, parece que Malta ainda pensa que os humanos vivem na natureza, como os brutos. Ainda que, mesmo na natureza – talvez o pastor desconheça – os animais também não se restringem ao côncavo e ao convexo. Bonobos estão aí para provar.

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