Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, de 31/5/2015, do O POVO.

Carlus

Arte: Carlus

Como ganhar dinheiro de maneira simples
Plínio Bortolotti

Existem várias boutades a respeito das casas bancárias: “Melhor do que roubar um banco é fundar um” (Bertolt Brecht, dramaturgo alemão), “Banco é um lugar que te empresta dinheiro se conseguires provar que não necessitas dele” (Bob Hope, comediante americano); porém, as que mais gosto estão a seguir, pois revelam a principal característica dos bancos: “A maneira como os bancos ganham dinheiro é tão simples que é repugnante” (John Kenneth Galbraith, economista americano) e “O melhor negócio do mundo é um banco bem administrado, o segundo melhor negócio do mundo é um banco mal administrado” (anônimo).

Vieram-me as frases à mente quando ouvi os primeiros ruídos sobre o “ajuste fiscal” – do qual as casas bancárias devem ficar de fora – e resolvi revisitar a publicação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômicos (Dieese) sobre a atuação dos bancos em 2014.

O estudo mostra que, chova ou faça sol; a economia indo bem ou mal, o lucro dos bancos está sempre garantido. Faça um esforço o leitor para se lembrar se algum dia viu uma manchete dizendo que os bancos amargaram prejuízo, o que frequentemente acontece com um ou outro setor da economia, mesmo quando a situação é boa e, especialmente, quando aparecem os primeiros sinais de dificuldades na economia.

Seja sob a presidência do sociólogo Fernando Henrique Cardoso ou do operário Luiz Inácio Lula da Silva, os bancos estão sempre no topo da cadeia alimentar. E, no governo da economista e ex-guerrilheira Dilma Rousseff, a coisa permanece a mesma.

Em 2014, o total de ativos das cinco maiores instituições bancárias do país chegou a R$ 5,3 trilhões, com evolução de 14,4% em 12 meses. O patrimônio líquido cresceu 18,4% no período. (Patrimônio líquido são os investimentos dos proprietários e as reservas de lucro em caixa. Ativos são todos os bens, valores e créditos, que formam o patrimônio da empresa.)

No ano passado, as cinco maiores instituições financeiras obtiveram lucro líquido de R$ 60,3 bilhões, com crescimento de 18,5% na comparação com 2013. O Itaú Unibanco foi o banco com o maior lucro: R$ 20,6 bilhões, representando aumento de 30,2% em relação a 2013. É também o maior percentual de crescimento do lucro entre os cinco maiores bancos do país. O Bradesco teve o segundo maior lucro, de R$ 15,4 bilhões, crescimento de 25,9%, o maior da história da instituição.

Agora, vejam vocês como os bancos lucram tanto, segundo a análise do Dieese: apelando para o “conservadorismo” na concessão de crédito (ou seja, empresta dinheiro para quem não precisa ou para quem já o tem, como diz Bob Hope); elevando as receitas com tarifas (ataque ao bolso dos clientes) e cortes de pessoal (eliminando empregos), ou seja, o modo “simples e repugnante” de ganhar dinheiro, como dizia Galbraith.

O que os bancos arrecadam com tarifas e prestação de serviços cobre entre 103% e 169% das despesas com pessoal nas maiores instituições financeiras. Ou seja, uma arrecadação que deveria ser apenas secundária, para cobrir custos operacionais – já que a atividade fim do banco é vender dinheiro -, vira fonte de lucro. Na manobra, os bancos espoliam os clientes e esfolam os funcionários.

E a festa não é só no Brasil: a rentabilidade exuberante dos bancos ocorre em todo mundo. E quando eles eles administram mal o negócio, não tem problema, o Estado (ou seja, o dinheiro público) corre a socorrê-los, como aconteceu nos Estados Unidos e Europa, na crise de 2008.

NOTAS

Maiores
Os cinco maiores bancos brasileiros são: Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander. Entre eles, somente a Caixa manteve a expansão de crédito em 2014.

Empregados
O número de trabalhadores em quatro dos cinco maiores bancos do país está em queda desde 2012. Somente na Caixa houve elevação de 3,3%. Entre dezembro de 2013 e dezembro de 2014, os bancos extinguiram 5.104 postos de trabalho.

Caixa
Para o Dieese, as ações da Caixa mostram que é possível melhorar o índice de eficiência, com ampliação de postos de trabalho, e aumentando oferta de crédito na economia.

Dieese
Para ver o estudo completo do Dieese “Desempenho dos bancos 2014”, fonte de consulta para esta coluna.

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