Reprodução do artigo publicado na edição de 18/6/2015 do O POVO.

Hélio RôlaO alvo errado
Plínio Bortolotti
plinio@opovo.com.br

No programa O Povo no Rádio, Valdetário Monteiro, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-CE), disse ontem que “há vinte anos” ouve falar em corrupção no Judiciário cearense.

No entanto, foi preciso esperar que Gerardo Brígido assumisse a presidência do Tribunal de Justiça (TJ) para que um juiz, no caso desembargador, tivesse coragem de enfiar o dedo na ferida, coisa que ninguém, incluindo advogados, tivera a ousadia de fazer. Tomar atitude assim implicou enfrentar reações corporativas, além do confronto direto com uma organização criminosa, especializada em devolver para as ruas bandidos do pior tipo. Qualquer pessoa sensata pode avaliar os riscos que o desembargador correu e ainda corre.

Parece bastante óbvio que o arranjo para favorecer a bandidagem, tendo à frente desembargadores que leiloaram a toga, somente seria possível com o concurso de advogados desonestos. Assim, soa fora de lugar a insistência com que Valdetário repete que Gerardo Brígido teria lançado suspeitas generalizadas sobre magistrados e advogados, um de seus argumentos para interpelar Brígido judicialmente para que “apresente provas” de sua denúncia.

O fato de negócios escusos estarem sendo realizados no TJ, disse Valdetário, “não quer dizer que todo advogado e desembargador que trabalha nos plantões são corruptos”. Por óbvio. E, ao que eu me lembre, ninguém fez tal acusação. Brígido afirmou que havia uma rede organizada para conceder indevidamente liminares – o que vem se comprovando.

Por isso, a desnecessária ressalva de Valdetário é mera desculpa para exercer seu corporativismo, aparecendo como defensor da honra da categoria. Ainda que Brígido houvesse feito a generalização (que não houve), seria um detalhe de menor importância, frente à gravidade do crime que ele trouxe à luz. E o presidente da OAB deveria saber que quem não sabe diferenciar um mal menor do mal maior, está a serviço do mal.

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