Reprodução do artigo publicado na edição de 12/11/2015 do O POVO.

Hélio RôlaCunha pode ser escada para Pinato
Plínio Bortolotti

Não sou jornalista especializado em política, porém sou um profissional que presta atenção. O exercício do jornalismo me ensinou a nunca tomar declaração de político pelo valor de face e também a ler nas entrelinhas. Palavras são as coisas mais escorregadias do mundo e, em determinadas bocas, servem somente para dissimular o pensamento.

Quando os jornais ainda publicavam que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) negara ter contas no exterior – sem aprofundar os questionamentos -, publiquei o seguinte post no Twitter: “[Lendo nas entrelinhas] Cunha diz não ter conta na Suíça (em nome dele), porém ainda não negou que seja o ‘beneficiário’ de alguma delas” (2/10/2015).

Referia-me à declaração do presidente da Câmara, à CPI da Petrobras: “Não tenho qualquer tipo de conta em qualquer lugar que não seja a conta que está declarada no meu imposto de renda”.

Na semana passada, meu artigo aprofundava o que havia adiantado no post do Twitter, antes que Cunha sacasse dos dicionários o vocábulo “usufrutuário”, para – em um jogo de palavras – fabular sobre o dinheirama (dele) na Suíça, administrada por “trustes”.

De tão frágeis as lorotas, é bem possível que, embora o relator da Comissão de Ética, Fausto Pinato (PRB-SP), lhe seja simpático, ficará em dificuldade se aceitar os argumentos de Cunha, pois equivaleria a uma confissão de imbecilidade.

Além do mais, Pinato – deputado do baixo clero, eleito na carona da votação espetaculosa de Celso Russomano (1,5 milhão de votos) – tem a oportunidade da vida dele para sair da obscuridade, enfrentando Cunha, já cambaleante, mas ainda com poder.

Guardadas as diferenças, o mesmo aconteceu quando Osmar Serraglio (PMDB-PR), também do baixo clero na época, assumiu a relatoria da CPI dos Correios. Muita gente passou a dizer que não daria em nada. Ele agiu com firmeza, a CPI desaguou no mensalão – e Serraglio tornou-se nome conhecido.

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