Reprodução do artigo publicado na edição de 28/1/2016 do O POVO.

Insegurança pública
Plínio Bortolotti

Se você é daqueles que concordam com a sentença “bandido bom é bandido morto” – autorizando assim o policial decidir quem é “cidadão de bem” e quem merece levar um tiro -, saiba que em 2014 a polícia brasileira matou três mil pessoas, 40% a mais que no ano anterior.

Se para você a única pena cabível para quem comete um crime – mesmo de menor gravidade – é o encarceramento, saiba que o número de adultos presos no Brasil aumentou 80% nos últimos 10 anos. Há 600 mil encarcerados no país (junho 2014), mais de 60% acima da capacidade oficial das cadeias. E, nos presídios, acusados de furto são obrigados a conviver ao lado de autores de crimes graves, como homicidas.

Se você defende que ao criminoso condenado não basta apenas cumprir a pena imposta pela Justiça, pois tem de passar por um suplício adicional, observe, no parágrafo anterior, que esse castigo já vem sendo aplicado. Saiba ainda que suspeitos começam a sofrer antes mesmo da condenação: no Brasil, 40% dos presos estão esperando julgamento, ou seja, ficam atrás das grades mesmo sem ter a culpa formada.

Agora, sabendo que as medidas que você propõe para reduzir a insegurança já vêm sendo aplicadas, responda: a violência e a criminalidade estão aumentando ou diminuindo no Brasil?

As informações acima foram divulgadas esta semana pela Human Rights Watch, ONG internacional voltada para os direitos humanos, que prepara anualmente relatório sobre o assunto.

O documento indica ainda chacinas praticadas por policiais no Pará: 10 pessoas, Amazonas: oito pessoas e São Paulo: 19 pessoas. (Nesse item, o estudo da entidade no próximo ano deverá indicar o Ceará e as 11 pessoas chacinadas em Messejana, ao que tudo indica, crime praticado por policiais.)

Para Maria Laura Canineu, diretora da Human Rights no Brasil, “houve fracasso generalizado, em todas as esferas do governo, em relação ao problema da segurança pública”.

E o fato é que para um problema complexo inexiste solução simplista.

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