Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 31/1/2016 do O POVO

CarlusPara ser candidato a presidente Ciro terá de ser apresentado como “novidade”
Plínio Bortolotti

Em artigo que publiquei na editoria de Opinião, “O PSDB e o balanço do navio” (21/1/2016), argumentei que os tucanos foram incompetentes para aproveitar a grande oportunidade que se abriu para um partido de oposição ao governo.

A impressão que se generalizou – em política importa pouco se verdadeira ou não – é que o PSDB foi caudatário do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), este que se enrolou em uma teia de malfeitos e mentiras da qual nem um Houdini conseguirá desembaraçá-lo.

Porém, no mesmo artigo escrevi um PS. afirmando que tampouco a presidente Dilma Rousseff poderá se aproveitar da inépcia oposicionista, pois ela mesma vive situação delicada, para usar um ajetivo generoso.

Tendo invertido as promessas de campanha, sofrendo críticas de seu próprio partido e das fileiras sindicais – sempre simpáticas aos governos petistas – e com uma base instável no Congresso, Dilma sofre precocemente da “síndrome do pato manco”.

Essa é uma expressão americana que caracteriza um presidente em fim de mandato, que não consegue mais implementar política nenhuma, mas tem de seguir manquitolando. O problema é que a síndrome atacou uma Dilma recém reeleita, portanto, ela vai ter de se arrastar por longo tempo, caso não consiga realizar uma improvável revolução nos modos e fundamentos de seu governo.

Quando Dilma completar seu mandato, o PT terá ficado 16 anos no poder, o que, convenhamos, é muito coisa: mais do que qualquer outro partido conseguiu na história do Brasil, excluindo-se o período em que o “partido militar” assumiu o poder. Mas é claro que o petismo vai querer mais. O problema é que se o PT apresentar um candidato de suas hostes, terá de ficar explicando todos os casos de corrupção em que o partido se meteu, correndo o risco de sofrer uma derrota acachapante.

(E aqui também vale a máxima da “impressão” que fica: pouco vai adiantar o argumento de que foi – na visão petista – o partido que mais combateu a corrupção, que aparelhou e deu liberdade à Polícia Federal, etc. O sentimento predominante é que o PT se “lambuzou”, como reconheceu o ministro da Casa Civil, Jaques Vagner.)

Então, como o PT fará para se manter, pelo menos nas abas do poder? Talvez por interposta pessoa.

E é esse terreno que o PDT vem arando freneticamente, mas com cuidado, nos últimos meses: o primeiro grande lance foi a filiação dos Ferreira Gomes, com os irmãos Cid e Ciro ganhando protagonismo imediato.

Vejam outros sinais. A reunião do diretório nacional do PDT “fechou questão” em dois assuntos de máximo interesse do PT: os trabalhistas vão se posicionar – em bloco – contra o impeachment de Dilma Rousseff e, de quebra, vão trabalhar pelo afastamento de Eduardo Cunha (PMDB) da Presidência da Câmara. Pouco antes, o presidente do PDT, Carlos Lupi, havia declarado que está circulando com desenvoltura entre dirigentes petistas para oferecer a candidatura de Ciro Gomes como alternativa a um candidato do PT.

“A receptividade é boa”, disse Lupi. Sinal que o negócio já está em nível de noivado, e não se chega a esse ponto sem que o pai da noiva (Lula) dê o aval para tais intimidades.

Claro que há percalços pelo caminho: 1) Ciro – que já passou por mais de meia dúzia de partidos e foi candidato a presidente duas vezes – terá de ser reciclado como uma “novidade” na política. 2) Será preciso grande esforço para fazer a maioria do PT aceitar uma candidatura de fora de seus quadros.

NOTAS

Outros sinais
Se o negócio progredir, Ciro Gomes deverá baixar o tom de suas críticas ao governo. Vai continuar a fazê-las, lógico, pois do contrário não seria “novidade” nenhuma, mas certamente vai calibrar a linguagem.

Retribuição
O ministro das Comunicações, André Figueiredo, já avisou que a reeleição de Roberto Cláudio (PDT) é “prioridade nacional” do partido. E o PDT deve estar esperando retribuição pelo apoio oferecido ao PT. Um desses trocos, certamente, é que o PT desista de lançar candidato em Fortaleza.

Manifesto
Mas o negócio anda dividido: enquanto a direção municipal petista lança manifesto pela candidatura própria, outros dirigentes importantes seguem ao lado do governador Camilo Santana (PT), que pretende levar o PT a apoiar Roberto Cláudio.

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