Reprodução do artigo publicado na edição de 17/3/2016 do O POVO.
Governo sem capacidade para governar; Moro sem compostura para julgar
Plínio Bortolotti
plinio@opovo.com.br
Sinceramente, a sensação é de vertigem. Eu, que vivi conscientemente o período do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello (1992), imaginei que nunca mais veria situação parecida. Engano. Existe o dito de que o Brasil não é para principiantes; a rigor, nem mesmo para quem é calejado em suas lides.
Observando-se o que aconteceu ontem o sentimento é que todo mundo perdeu a compostura. Tanto os governantes quanto a oposição e, agora, também, o juiz responsável por uma das investigações mais importantes da história do país, a Lava Jato.
Valendo-se apenas de seu arbítrio – e talvez pressionado por procuradores Ministério Público Federal no Paraná e por agentes da Polícia Federal – Moro resolveu jogar gasolina na fogueira, ao divulgar aspectos de uma investigação em andamento.
Sim, parecem frágeis as explicações do governo para justificar a conversa entre o nomeado ministro da Casa Civil, Luiz Inácio Lula da Silva, e a presidente da República, Dilma Rousseff. Mas também é assustador ver o juiz Sérgio Moro vestir por sobre a toga a capa de vingador e decidir agir como um defensor dos interesses públicos gerais da sociedade tripudiando sobre a lei.
É claro que, ao divulgar a gravação da conversa entre Lula e Dilma, ele sabia que estava jogando gasolina na fogueira. Dessa forma, Moro agiu mais como um político do que como um juiz.
Assim, se o governo perdeu a condição de governar, é preciso reconhecer que Sérgio Moro perdeu a imparcialidade para julgar depois do que fez.
Escrevi este artigo às 22 horas de ontem, depois de haver caducado o texto que, pouco tempos antes, havia remetido à editoria de Opinião. Na velocidade impressionante com que a situação político muda no Brasil, o que era deixa de ser poucos minutos depois. E assusta o que vem pela frente.
Caro Plínio, vi que a manifestação de amanhã vai vestir as cores verde-amarelo. Isto amplia e dá vontade da gente ir, com a bandeira: Reforma Política Já! Mais poder ao povo!
Ou seja, uma reforma política que ajude a afastar, pelo menos um pouco, a política do dinheiro e a torna mais participativa, manos centralizada. Precisamos voltar aos temas essenciais para o povo brasileiro e para a saúde do planeta.
Estou pensando em ir para a manifestação com esta bandeira. O que acha?
Um abraço.
Oswald Barroso
Olá, Oswald,
Não tenho nenhum preconceito quanto a cores. Mas consulte o seu horóscopo para ver qual cor lhe cairá melhor da data.
Para ajudá-lo na dúvida, envio o poema de um seu xará:
brasil
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
– Sois cristão?
– Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
– Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
……
[Abraço,
Plínio]
Caro Plínio Bortolotti, logo de saída percebe-se que você é um petista ou petralha bem formado, você passa a impressão de que prefere como a maioria de seus coadjuvantes partidários, atirar no carteiro do que discutir a mensagem. É de uma fraqueza fenomenal dizer que o Juiz Moro estaria pressionado pelo MP e que por isso vazou as gravações entre o maior facínora do País e a coisa que hoje está Presidente da Republica. Vejo que está muito pouco informado acerca da Constituição vigente e sobre o que venha a ser o Processo no âmbito jurídico. Analise o papel do desgoverno, do comportamento deste sem vergonha lula, o lixo que eles deixam como rastros ao realizarem suas mazelas para com a administração publica e o desdém com que tratam a sociedade e a Nação. Peço que não sinta vertigem diante dos fatos, sinta-a diante da safadeza dos políticos que estão à frente da estrutura do poder e do desgoverno em nosso País.
Observo também que você é detentor de uma inocência sem par, quando analisa com a leveza jornalistica, tipica dos esquerdistas caviar, porque dizer que existe fragilidade nas desculpas da anta do planalto é no minimo cegueira, o que ela fez foi cometer crime, obstrução à Justiça etc. e tal…
Outra coisa caro Plínio, sou assíduo ouvinte de seu programa e do seu comentário junto ao programa da Maísa, no entanto gostaria que você, como está em posição mais confortável do que os ouvintes, fosse menos ácido e menos agressivo com os que ligam para expor suas idéias…lembre-se que você deveria desempenhar papel na formação de opiniões e não no ataque a opiniões…no mais, gostaria de propor temas mais picante e eletrizantes do nosso dia a dia politico…assim mesmo promovo votos de felicidade e parabéns pelo seu trabalho.
Abraços.
Carlos Bonasser
Caro Carlos,
Vou acrescentar o “inocente” ao rol de classificações que me atribuem. Agradeço também aos conselhos quanto aos meus comentários no rádio. Vou conversar sobre com meus botões.
Com atenção,
Plínio
Caro Plínio, na última edição da Veja, há uma entrevista com o Delcidio do Amaral.
Lá o ex-líder do governo no senado explicita que Cardozo, Lula e DIlma agiram “nas sobras” para tentar persuadir o atual presidente do STJ. (Isso não parece ser democrático, ou é?).
Permita-me transcrever o discurso de Celso de Mello (o decano) sobre o assunto:
“Os meios de comunicação revelaram, ontem, que conhecida figura política de nosso País, em diálogo telefônico com terceira pessoa, ofendeu, gravemente, a dignidade institucional do Poder Judiciário, imputando a este Tribunal a grosseira e injusta qualificação de ser “uma Suprema Corte totalmente acovardada”!
Esse insulto ao Poder Judiciário, além de absolutamente inaceitável e passível da mais veemente repulsa por parte desta Corte Suprema, traduz, no presente contexto da profunda crise moral que envolve os altos escalões da República, reação torpe e indigna, típica de mentes autocráticas e arrogantes que não conseguem esconder, até mesmo em razão do primarismo de seu gesto leviano e irresponsável, o temor pela prevalência do império da lei e o receio pela atuação firme, justa, impessoal e isenta de Juízes livres e independentes, que tanto honram a Magistratura brasileira e que não hesitarão, observados os grandes princípios consagrados pelo regime democrático e respeitada a garantia constitucional do devido processo legal, em fazer recair sobre aqueles considerados culpados, em regular processo judicial, todo o peso e toda a autoridade das leis criminais de nosso País!
A República, Senhor Presidente, além de não admitir privilégios, repudia a outorga de favores especiais e rejeita a concessão de tratamentos diferenciados aos detentores do poder ou a quem quer que seja. Por isso, Senhor Presidente, cumpre não desconhecer que o dogma da isonomia, que constitui uma das mais expressivas virtudes republicanas, a todos iguala, governantes e governados, sem qualquer distinção, indicando que ninguém, absolutamente ninguém, está acima da autoridade das leis e da Constituição de nosso País, a significar que condutas criminosas perpetradas à sombra do Poder jamais serão toleradas, e os agentes que as houverem praticado, posicionados, ou não, nas culminâncias da hierarquia governamental, serão punidos por seu Juiz natural na exata medida e na justa extensão de sua responsabilidade criminal!
Esse, Senhor Presidente e Senhores Ministros, o registro que desejava fazer.” Celso de Mello