Reprodução do artigo publicado na edição de 5/5/2016 do O POVO.

Hélio RôlaSe não é golpe, é o quê?
Plínio Bortolotti

Apesar de crítico do processo, meu colega Érico Firmo, titular da coluna Política, não acha que “golpe” seja a palavra mais apropriada para referir-se ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Mantive essa mesma opinião durante o decorrer do processo, até anotar que passaria a usar a palavra, conforme expus no texto que escrevi para a editoria de Política deste jornal (“O nome da coisa”, 18/4/2016).

A propósito dessa divergência, mantivemos um debate, via Whatsapp no grupo dos editores do O POVO, depois que Érico considerou “gravíssimo” o fato de a advogada Janaína Paschoal ter admitido que recebeu R$ 45 mil do PSDB para elaborar pedido de impeachment. Sendo assim, considerou ele, o PSDB não poderia ser o proponente da ação. “Se houver seriedade, deveria ser base para anular tudo”, escreveu Érico, continuando: “É ilegal o partido pagar alguém para apresentar a denúncia (do impeachment)”.

Na sequência, respondi: “É por essa e por outras que a tese do golpe passou a me aparecer mais do que discurso partidário”. Lembrei que, a meu ver, os opositores criaram a tese do impeachment, depois caíram a campo para arranjar os argumentos para justificá-lo. Acrescentei: “Acreditar que a Janaína é somente uma ‘cidadã indignada’ equivale a crer que as renas do Papai Noel são capazes de voar”.

Érico disse que evita a terminologia “golpe”, pois equipara “coisas diferentes”, ressalvando não ser necessário utilizar o termo “golpe” para “criticar duramente” o andamento do impeachment.

Redargui dizendo que eu também evitara o usar o termo por muito tempo, e que muitos dos argumentos dele estavam presentes nas minhas análises. E, ainda, que este não era um golpe clássico, uma quartelada, porém algo mais sofisticado.

Deixo a palavra final com o Érico: “Golpe é quando se violenta estruturas institucionais; acho que são coisas tão distintas; (usada aleatoriamente) a palavra (golpe) acaba perdendo o sentido”.

E você, leitor, o que acha?

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