Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 4/8/2016 do O POVO.
Sem partido, sem ideologia e sem noção
Vem crescendo a polêmica sobre o projeto de lei que tramita no Congresso Nacional – e que se reproduz como os Gremlins Brasil afora – visando proibir o que seus defensores chamam de “doutrinação ideológica” nas escolas. Para eles, o professor aparece como um sujeito assustador, pronto a levar os estudantes para as sendas escuras do “esquerdismo”.
O interessante é que o Escola sem Partido, que pretende salas de aula “sem ideologia” é defendido, por exemplo, por um movimento chamado Endireita Brasil, por pastores evangélicos e políticos conservadores. Para eles, “ideologia” é uma espécie de vírus, do qual estão livres da contaminação.
Mas a proposta é tão canhestra que até o ministro da Educação de Temer, Mendonça Filho – cuja primeira medida ao assumir a pasta foi receber o especialista em educação Alexandre Frota – está contra a sua implementação.
Para o ministro, os professores devem ter compromisso “com a amplitude do conhecimento” oferecido aos estudantes, mas entende que não será uma lei a resolver o problema. Ele disse ainda não conhecer nenhum país do mundo com legislação para “controlar posicionamento dentro da sala de aula”, vendo a “quase impossibilidade” em aplicar uma medida desse tipo.
No entanto, ao ser perguntado se, caso a lei seja aprovada, recomendaria o veto ao presidente interino Michel Temer, evitou responder diretamente.
O ministro disse que não iria “antecipar um posicionamento de um projeto” que ainda não foi votado, acrescentando que o presidente saberá como se comportar “tendo em vista o interesse geral de uma boa educação e de conceitos como pluralidade, liberdade e preservação do direito do estudante de conhecer todos pontos de vista históricos e ideológicos”.
Oremos.
PS. 1) As informações do artigo estão em entrevista do ministro ao G1; 2) No programa Debates do Povo de ontem, rádio O POVO/CBN, o tema foi discutido; 3) na coluna “Menu Político”, próximo domingo, voltarei ao tema.
A ideia do cartaz com os deveres do professor é absurda.
A denúncia anônima é uma grande arma dos cidadãos e tem ajudado a combater desvios de agentes públicos. E precisa de documentos e comprovantes para abrir uma sindicância.
Não considero ameaça.
Jamais podemos abandonar os debates em sala de aula para que os alunos aprendam a respeitar a opinião contrária e argumentar.
A neutralidade é impossível.
Mas essa proposta surgiu por conta das inúmeras reclamações sobre desvios e falta de compromisso com a verdade.
Assim como o jornalismo não pode esconder os fatos os professores precisam mostrar o que houve e abrir debates.
Os jovens de 10 a 16 anos ainda tem um pequeno arquivo de informações e estão na escola em busca de aumentar o conhecimento.
Reclamamos dos professores que não contam corretamente:
1. a Revolução Industrial ou
2. a ação de bandidos, assaltantes e justiceiros que diziam lutar no Brasil contra a ditadura em defesa de liberdade ou
3. que tudo é culpa dos americanos ou
4. que o capitalismo é selvagem e cruel ou
5. que Lamarca, Marighela, Mao Tsé Tung, Chavez, Che Guevara e Fidel Castro são heróis.
Não queremos mais que professores ou um jornalista da competência de Valdemar Menezes diga: Na Venezuela, os cidadãos podem convocar plebiscitos, através de iniciativa legislativa popular; destituir qualquer mandatário; podem apresentar emendas constitucionais, vetar leis promulgadas pelo parlamento e intervir diretamente no controle da gestão pública. É o sistema mais democrático do Continente. Só quem compete com ele é o da Suíça.
Queremos defender em debates sem patrulhamento e sem ser vaiado intensamente pensamentos diferentes como o de Fábio Campos:A esquerda chegou ao poder vendendo uma esperança: a mudança da cultura política do País. Milhões compraram essa preciosa mercadoria. Era falsa. Era uma ilusão. Já em 2005, com o mensalão, o método ficou muito claro. Nada de mudar a política. Nada de transformar a atrasada cultura política profundamente arraigada no país. O caminho foi se adequar a essa cultura.
O choro é livre.
“primeiramente fora T…” assim iniciou sua fala o professor sociólogo nos debates do povo quando o projeto de lei escola sem partido era debatido. Coincidentemente o mesmo professor acompanhara alunos de escola pública que “invadiram” suas escolas e parecem defender o programa “mais merenda”.
Fui vítima da doutrinação de bons professores durante a década de 80 e 90. Meus professores sempre batiam na tecla que o melhor para o nosso país seria a igualdade vivida na ilha cuba e na grande potência fria URSS. Que o capitalismo era selvagem e não cristão.
Hoje os muros das escolas trazem pintura enaltecendo o assassino argentino Che Guevara. As bandeiras do MST e outros movimentos criminosos estão em todos as badernas e infrações as leis magináveis e imagináveis no país.
Os professores nas salas de aula falam mal do governador, presidente, prefeito e não fazem uma alta avaliação.
Escola sem partido, sim.
A esquerda do país está atônica, pois durante muitos anos escutou (e ainda escuta) só o que falam. Aqueles que descordavam de suas idéias apenas se calavam, pois sem tinham constrangidos a não serem tão “cults”.
Agora o país tem duas vozes.
Diego Luz
Pelo jeito, Diego, a tal “doutrinação” não o pegou. Portanto, por que o medo? Ou você acha que escapar da “doutrinação” é somente para os mais “inteligentes” e que os demais são presas fáceis do discurso dos professores?
Para os seus leitores.
“Ensinar X Doutrinar
Fabio Florence
Pertence ao senso comum a ideia segundo a qual um ensino intelectualmente honesto deve fomentar nos alunos a aptidão para o pensamento independente dos vícios e das ideologias, ao passo que a chamada “doutrinação” consiste na imposição, pelo professor, de uma doutrina na qual ele acredita e para a qual deseja ganhar a adesão dos alunos. Sem pretender esgotar o tema, pretendo, aqui, convidar os educadores a refletirem mais a fundo sobre a prática da doutrinação para que, assim, possam melhor contribuir para a formação daqueles cujo aprendizado foi a eles confiado.
No livro “A Doutrinação”, escrito na década de 1970, o filósofo Olivier Reboul aponta dois sentidos para essa prática: a doutrinação de tipo conformista, que consiste no reforço de preconceitos já existentes na cabeça do educando, e a doutrinação de tipo sectário, marcada pelo ataque frontal aos preconceitos existentes na cabeça do educando e sua substituição por outros. Enquanto o conformismo impede que o educando elabore grandes projetos, cresça como pessoa e, assim, contribua para o bem social como um todo, o sectarismo está na raiz dos movimentos de negação radical da realidade, que frequentemente resultam em violência e grandes tragédias pessoais e/ou coletivas.
Talvez um dos grandes desafios com que se defronta o educador seja diagnosticar, na própria prática pedagógica, se seu ensino está ou não trilhando o caminho da doutrinação. Para melhor nos situarmos, sugiro tomarmos como ponto de referência alguns sintomas claros da doutrinação apontados por Reboul: fazer propaganda do partido político A ou B, impor um tipo de conhecimento que poderia ser compreendido (o famoso “porque sim”), lançar mão do argumento de autoridade quando não é o único possível, elaborar um ensino com base em preconceitos e, paralelamente, manipular fatos para que a doutrina ensinada aparente ser a única possível são indícios claros de que se está a doutrinar e não a ensinar.
Mesmo que o educador, ao olhar para essa lista, creia firmemente que não pratica nenhuma das condutas arroladas, ainda assim é possível que o faça sem saber. Acrescenta-se a isso o fato de que todo educador possui – e é legítimo que possua – suas crenças e convicções pessoais de ordem política e de valores morais e que um conjunto de aulas interessantes e atraentes podem implicar na adesão irrefletida do aluno ao ponto de vista do professor pela simples associação da opinião com a pessoa. Como, então, se resguardar desse perigo?
A resposta que proponho pode parecer um truísmo, mas, em tempos de recrudescimento ideológico e partidário como os nossos, se faz necessária: o educador deve ter a prática contínua e disciplinada do estudo, associada sempre à honestidade intelectual de expor o maior número de pontos de vista que um assunto comporta e as possíveis conseqüências que a adoção de cada um deles pode acarretar.
O caminho mais fácil para ser um professor “popular” parece ser, cada vez mais, o do sectarismo, sobretudo por este se revestir de uma aparência de coerência entre o ensinar e o agir. Com efeito, o militante político e o fanático vivem aquilo que ensinam com grande fervor, mas não cumprem sua função de educadores, que consiste, sobretudo, em abrir as portas do pensamento responsável e nunca em fechá-las.
Fabio Florence (florenceunicamp@gmail.com) é advogado, professor de Filosofia e gestor do Núcleo de História do IFE Campinas.”
Sou contra a doutrinação na sala de aula, de quaisquer bandeira ideológica; acho que as visões de mundo devem ser apresentadas sem restrições e com profundidade; com relação ao movimento “escola sem partido”, precisamos analisar bastante, a fim de sabermos a real intenção dos seus defensores…
Pelo contrário Plínio a doutrinação me pegou. Apenas me tornei adulto.
Alguns sintomas.
Cuba é bom EUA e EUROPA é ruim
Che (assassino) é herói
“Todos em Cuba tem saúde e educação”
Soviet era o meu relógio.
Fui eleitor do Brizola
Fui eleitor do Chico Lopez, João Alfredo e Inácio Arruda (que arrependimento)
Acha pouco, “ômi”.
E Sim, somos todos presas fáceis de professores e “intelectuais” de sindicato.
Diego
Que bom pra você, Diego, que se tornou “adulto”. Mas parece que você se deixa arrebatar muito facilmente; primeiro pela esquerda infantil e, agora, pela direita fascista.
Poxa Plínio, já me chamou de volátil e de fascista em um mesmo parágrafo? RSSSS
Todo mundo sabe que o termo fascista é hoje pejorativo; um adjetivo frequentemente utilizado para se descrever qualquer posição política da qual o orador não goste.
Não há dúvidas quanto às origens do fascismo. Ele está ligado à história da política italiana pós-Primeira Guerra Mundial. Em 1922, Benito Mussolini venceu uma eleição democrática e estabeleceu o fascismo que faz prevalecer os conceitos de nação e raça SOBRE os valores individuais e que é representado por um governo autocrático, centralizado na figura de um ditador. Mussolini havia sido membro do Partido Socialista Italiano (“Úlha”?!!!).
“O fascismo é o sistema de governo que opera em conluio com grandes empresas (as quais são favorecidas economicamente pelo governo), que carteliza o setor privado, planeja centralizadamente a economia subsidiando grandes empresários com boas conexões políticas, exalta o poder estatal como sendo a fonte de toda a ordem, nega direitos e liberdades fundamentais aos indivíduos (como a liberdade de empreender em qualquer mercado que queira) e torna o poder executivo o senhor irrestrito da sociedade.”
Alguma semelhança com o governo pós-morte e vivido nos últimos 13 anos ou mais?
Caro Plínio, estou longe de ser fascista.
Caleidoscópio ou Tapas, já diz Marcos A. de Mello.
Grato,
Diego LUz