Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 11/9/2016 do O POVO.
Movimento negro organiza o partido Frente Favela Brasil
O Brasil precisa de um novo partido político? Se depender da Frente Favela Brasil, a resposta é sim. Organizando a frente, que pretende transformar-se em partido, está um dos setores mais destacados do movimento negro no Brasil, a Central Única das Favelas, a Cufa Global, presidida pelo cearense Preto Zezé.
Ele defendeu a ideia em uma das edições do programa Debates do Povo (rádio O POVO/CBN), do qual participou também o professor Hilário Ferreira, pesquisador da história e da cultura negra no Ceará e articulista do O POVO.
Para Zezé, nos últimos anos, mesmo com as “forças democráticas e populares” no governo (referência às administrações de Lula e Dilma e algumas administrações municipais e estaduais), houve poucos avanços na “ocupação de espaços de poder” pelo movimento negro.
Os setores de esquerda, diz o presidente da Cufa, “professam e pregam em nosso nome e da nossa causa”, mas, quando estão no poder, secundarizam os temas relativos ao negro, ao jovem e à mulher, que têm orçamentos menores em comparação com as áreas consideradas prioritárias, afirma ele. “Isso é errado, em um país como o Brasil, fundado sobre três séculos de escravidão.”
“A nossa agenda tem de ir além do interesses desses grupos partidários; do contrário, nós vamos virar aquele setorzinho dos pretos, muito querido pelos nossos amigos e pares brancos, mas, no máximo, vamos ter uma secretaria de pretinhos com um computador usado, um telefone lento e uma internet que pega de vez em quando”, ironiza o presidente da Cufa.
Para Zezé, esse tipo de abordagem só pode ser superada com a criação de um partido: “Eu sou entusiasta da criação da Frente Favela Brasil, uma aglutinação de negros e de pessoas moradoras de favelas, que está nascendo para ocupar politicamente o nosso espaço”.
Para o professor Hilário Ferreira, a criação de um novo partido não deveria ser prioridade. Ele diz que o melhor caminho para combater o racismo é a “formação” da população negra. “Não adianta partido com o título ‘preto’ e aí aparecer oportunistas que vão continuar usando essas pessoas como massa de manobra.”
Com trinta anos de militância no movimento negro, Hilário diz que é preciso intensificar o conhecimento político das pessoas (sobre sua história e seus direitos), independentemente de partido, “pois é assim que se fortalece o movimento”.
Preto Zezé rebate afirmando que não aguenta “esperar mais 50 anos” para formar lideranças, por isso, é preciso “começar o processo” de construir o partido. “Precisamos ser os protagonistas, não podemos mais ser coadjuvantes de nossa própria história.”
O movimento pela criação do partido Frente Favela Brasil foi lançado no mês de julho, em uma festa no Morro da Providência (Rio de Janeiro). Na ocasião, o coordenador da frente no Distrito Federal, Anderson Quack, disse que o partido nasce da necessidade de dar “visibilidade e oportunidade às favelas e à população negra do país”.
Ele lembra que 52% da população brasileira é formada por negros e que existem 15 milhões de favelados no Brasil. A população negra brasileira, diz Quack, é do tamanho da Bolívia. Afirma ainda que o PIB (Produto Interno Bruto) das favelas equivale à economia do Paraguai.
Mesmo assim, diz ele, “não temos a devida atenção dos Poderes Públicos de nenhuma esfera, nem na instância municipal, estadual, nem na federal e nem nas instâncias do Poder Legislativo, Judiciário nem Executivo”.
NOTAS
Cotas
Preto Zezé diz que a Frente Favela Brasil terá cota de 30% para jovens; pelo menos a metade das candidaturas será de mulheres – e a direção do partido será formada somente por pessoas negras.
Partidos
O Brasil tem 35 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE); outras 30 siglas estão empenhadas em legalizar-se.
Créditos
Agência Brasil: Movimentos negro e de periferia lançam partido Frente Favela Brasil; Rádio O POVO/CBN: Debates do Povo.
O Brasil precisa de um novo partido político? Sempre cabe mais um. Mas seria bom que o Fundo Partidário fosse distribuído de outra maneira. E que a cláusula de barreira seja regulamentada. Lembro que o Partido da Mulher não conseguiu aumentar a participação feminina.
Transcrevo resposta que recebi por ter tido a ousadia de comentar anteriormente:
pelo tamanho dos textos, você dever estar treinando para escrever um romance. Chego a me sensibilizar com a sua obsessão em me ler com tanto cuidado e gastar seu precioso tempo analisando cada linha do que escrevo.
COMENTO: Não há obsessão mas gosto de ler o jornal inteiramente, desde menino e quando O Povo ainda ficava na rua Senador Pompeu.
E aproveito cada espaço que me é concedido.
Alguns resumos ou a leitura de apenas algumas linhas são um desrespeito aos autores, principalmente profissionais sérios com coragem e hombridade que publicar até comentários dos quais discordam.
Olá, Paulo,
Fique a vontade para continuar escrevendo.
Plínio