Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 6/10/2016 do O POVO.

Escalada perigosa

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) contabilizou 300 violações contra jornalistas que cobriam manifestações este ano, até o mês de setembro. Entre elas, uma registrada contra o fotógrafo do O POVO, Mateus Dantas, quando cobria o ato de 7 de setembro contra o impeachment de Dilma Rousseff.

Ao tentar fotografar uma detenção – no meio de bombas e gás pimenta – um policial militar encostou-lhe a escopeta (carregada com balas de borracha) no peito e ameaçou: “Se você avançar, eu atiro”. Dantas estava devidamente paramentado como trabalhador da imprensa, com colete, capacete e crachá do jornal.

Dias após, uma festa na Praça dos Leões (17/9) sofreu a intervenção desastrosa da Guarda Municipal e da Polícia Militar, que atenderam a uma denúncia de suposto roubo de um celular ou de uma briga entre uma passageira e um taxista (não se sabe bem o que deu início ao disparate). Os jovens foram dispersados a poder de bombas e tiros de balas de borracha.

O que se observa é uma perigosa escalada da brutalidade policial, com muitos de seus agentes exorbitando de suas funções e agindo ao arrepio das leis e das normas do Estado Democrático de Direito, como aconteceu na chamada “chacina de Messejana”, em que 11 pessoas foram assassinadas. O Ministério Público denunciou 44 policiais militares pelos crimes.

O caso mais recente de abuso atingiu o ex-senador Inácio Arruda, atualmente secretário da Ciência e Tecnologia do Estado, que resultou na agressão, por parte de policiais, da mulher dele, da filha e outra jovem, depois que PMs atenderam a uma denúncia de boca de urna na seção na qual elas estavam.

A situação chegou a tal ponto, que juízes eleitorais pedem a intervenção da Força Nacional de Segurança no segundo turno das eleições em Fortaleza. Os magistrado argumentam que policiais estão agindo com parcialidade a favor de um dos candidatos a prefeito.

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