Reprodução da coluna “Política”*, edição de 10/11/2016 do O POVO.

Eunício rejeita emenda de Pimentel para corrigir salário mínimo

O senador Eunício Oliveira (PMDB) rejeitou todas as emendas apresentadas à redação da PEC 55. Eunício é relator da proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e a sua decisão ainda será votada pelos demais integrantes, que deverão confirmá-la. Se alguma emenda for admitida, o texto precisará voltar para a Câmara, o que o Palácio do Planalto quer evitar.

MALDADE
Chamada de “PEC do fim do mundo” e “PEC da maldade”, a medida estabelece limites para os gastos da União, que passarão ser corrigidos somente com o índice de inflação do ano anterior. Para a oposição, o maior prejuízo recairá sobre áreas essenciais. Entre as mais de 50 emendas havia propostas de fórmula diferente para calcular o limite de gastos e a exclusão do teto investimentos nas áreas de saúde, educação e ciência e tecnologia.

SALÁRIO MÍNIMO
Entre as emendas rejeitadas também estava a que mantinha o reajuste do salário mínimo pela fórmula atual, ou seja, a inflação do período somada ao índice de crescimento do PIB. Essa emenda foi apresentada pelo senador José Pimentel (PT), opondo dois senadores cearenses, já que foi Eunício Oliveira a rejeitá-la.

A partir de 2008, o salário mínimo começou a ganhar aumentos reais, transformando-se em poderoso instrumento de distribuição de renda. Restringir o seu valor será especialmente brutal para região Nordeste, pois 55% da renda têm como base o salário mínimo.

APOSENTADOS
Entre aposentados e pensionistas, em todo o país, em torno de 70% deles têm benefício igual ao salário mínimo. Portanto, quando se diz que a PEC não vai prejudicar os mais pobres, a quem se está tentando enganar?

PENTE-FINO SIM
O governo vem se gabando de ter passado o “pente fino” no Bolsa Família, cancelando 469 mil benefícios e bloqueando outros 667 mil. Teria a mesma coragem para autorizar auditoria na dívida pública? Duvido: entra governo, sai governo, ninguém se atreve. Se a ex-presidente Dilma Rousseff vetou uma auditoria na dívida, não seria Michel Temer, o operador do “mercado” a fazê-la. O Equador fez uma auditoria em 2007, reduzindo em 70% o estoque da dívida pública.

PENTE-FINO NÃO
Mas no Brasil é assim, quem pode mais chora menos. Enquanto se vai atrás do troco do Bolsa Família, constrangendo famílias pobres, os proprietários da dívida brasileira. (em primeiro lugar os bancos) continuam nadando de braçadas. Por que não se passa um pente-fino dívida para saber se não estão recebendo mais do que têm direito?

NUNCA ANTES
A página da União Nacional dos Estudantes (UNE) registra 176 universidades federais ocupadas, na luta contra a PEC 241/55. Segundo os estudantes, esse “é o maior movimento de ocupações da história do Brasil”.

A PEC E A BÍBLIA
A propósito, o presidente Michel Temer (PMDB), naquele jeito rocambolesco dele, menosprezou a inteligência dos estudantes dizendo que eles não leram o texto da PEC. Em seguida, desferiu ataque de sutileza hipopotâmica à ocupação das escolas.

Pode ser até que os estudante não tenham lido a proposta de emenda constitucional, mas compreenderam-lhe o mérito (melhor dizendo, demérito): eles fazem parte do grupo que vai pagar a conta do arrocho.

A propósito, será que Temer leu toda a Bíblia antes (ou depois) de tornar-se cristão? E um eventual leitor, devoto cidadão de bem, que apressou-se a aplaudir o presidente, já leu a Bíblia? Também leu a PEC para concordar com ela? Quanto mais conhecimento, melhor, mas quero dizer: sabendo-se o essencial de determinado assunto já é possível opinar sobre ele.

E DEUS SALVE A TODOS NÓS
No artigo para a editoria de Opinião escrevi sobre a vitória da Donald Trump nas eleições americanas.

*Em substituição ao titular Érico Firmo.

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