Reprodução da coluna “Política”*, edição de 30/11/2016 do O POVO.

Assembleia e TCM: política e relações familiares

A tradição de eleger uma chapa de consenso para dirigir a Assembleia Legislativa do Ceará será rompida este ano, com a insistência de Sérgio Aguiar em apresentar-se para disputar a presidência com Zezinho Albuquerque, que busca o terceiro mandato. Os dois parlamentares são do PDT, aliados do governador Camilo Santana (PT), este comprometido com a reeleição de Zezinho.

Se a disputa prosperar, qualquer resultado será ruim para o governo, que terá dificuldade em pacificar a base, com um dos lados lambendo as feridas da refrega.

POLÍTICA E FAMÍLIA
Mas observem como a atividade pública se entrelaça a interesses familiares: o apoio do deputado federal Domingos Neto é essencial para as pretensões de Sérgio Aguiar. Ele, que controla o bloco PSD/PMD com 11 votos na Assembleia Legislativa, é filho de Domingos Filho, conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), presidido por Chico Aguiar, pai do deputado Sérgio Aguiar.

Domingos Filho é o conselheiro com menos tempo de casa, mas ambiciona a presidência do TCM, mesmo furando fila que eleva ao cargo o mais antigo integrante entre aqueles que ainda não o ocuparam (há dois mais antigos na frente dele).

PAIS E FILHOS
Portanto, não seria estranho – “política tem dessas coisas” – se Chico Aguiar ajudasse Domingos Filho a chegar a presidente do TCM, desde que Domingos Neto mantivesse o apoio a Sérgio Aguiar na disputa à presidência da Assembleia Legislativa. Seria o caso de pai ajudando pai e filho ajudando filho: Chico ajuda o pai de Domingos Neto, que por sua vez dá uma mãozinha ao filho de Chico.

RENÚNCIA
Em 2014, Domingos Filho renunciou à vice-governadoria do Estado e foi imediatamente nomeado pelo então governador Cid Gomes como conselheiro do TCM. Foi compensação pelo fato de ter sido preterido como candidato a governador do Estado. A escolha recaiu sobre Camilo Santana (PT).

A PROPÓSITO
Já passou da hora de os tribunais de contas – União, estados e municípios – estabelecerem critérios mais republicanos para indicação de seus conselheiros. Concurso público não seria má ideia.

DESMONTE
Quando o chamado “desmonte” deixará de ser uma prática tão comum em prefeituras do interior cearense? Para leitores que eventualmente desconhecem o termo, “desmonte” refere-se às ações criminosas que muito prefeitos promovem (quando perdem a reeleição ou não conseguem eleger aliados) antes de repassar o comando ao eleito.

AGENTES DO CAOS
Muitos desses administradores derrotados aproveitam o interregno de tempo para se transformarem em agentes do caos: destroem bens materiais (já houve casos em que veículos da prefeitura foram encontrados com motores entupidos de areia), rasgam documentos, apagam dados em computadores, suspendem obras públicas e deixam de pagar fornecedores. O cardápio é usado na totalidade ou algumas partes, dependendo da disfunção psicológica de cada um desses celerados.

APERTO
Mesmo com o aperto dos órgãos de controle, como o Ministério Público, atuando com rigor, a prática continua disseminada nesse Ceará cabôco de mãe preta e pai João. Até quando?

LA VUE LADEIRA DA BARRA
Na coluna de 26/11/2016, na nota “Deve ter mais”, alertava que mais coisas viriam à luz sobre ex-ministro Geddel Vieira Lima e sua relação como o edifício La Vue Ladeira da Barra, da construtora Cosbat. “Sigam a construção”, escrevi.

Pois bem, o jornal Folha de S. Paulo (edição de 29/11) informa que a empresa não incluiu o contrato de promessa de compra e venda do apartamento 2.301, de Geddel Vieira Lima, na defesa que fez no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para subir 30 andares em vez dos 13 autorizados.

Na ata de constituição do condomínio, de setembro de 2015, o nome do ex-ministro também não aparece. O apartamento que Geddel afirma ter comprado está em nome da empresa responsável pelo edifício. (E ainda deve ter mais.)

*Em substituição ao titular Érico Firmo, que está de férias.

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