Reprodução da coluna “Menu Político”, edição de 4/12/2016 do O POVO.

O negócio lucrativo das notícias falsas

Estudo da Universidade Stanford constatou que crianças e jovens têm dificuldade para diferenciar notícias produzidas por fontes confiáveis de informações falsas ou publicitárias na internet. A universidade americana considerou “lamentável” e “alarmante” a inabilidade dos jovens em analisar informações das redes sociais.

Os pesquisadores fizeram testes com 7.804 estudantes de escolas de ensino fundamental e médio e de faculdades, durante 18 meses, em 12 estados americanos, segundo notícia publicada na Folha de S. Paulo.

Devido à intimidade dos jovens com dispositivos eletrônicos, supunha-se que teriam “perspicácia” para compreender o que acessam, porém “nosso trabalho mostra que o oposto disso é verdadeiro”, disse Sam Winebur, coordenador do estudo.

A maioria dos jovens (80%) não conseguiu distinguir, por exemplo, as “chamadas” (título ou pequeno texto) para notícias editorias (produzidas por veículos de comunicação reconhecidos) dos conteúdos patrocinados (publicidade). Outro tanto (40%) não foi capaz de identificar a falsidade de uma imagem, mesmo tendo fonte desconhecida e indícios de que havia sido modificada.

Se os nativos digitais saem-se mal em prova tão simples, os imigrantes digitais fariam ainda pior? Pode ser que sim, pode ser que não. Ter intimidade com um dispositivo eletrônico, por si só, não garante melhoria da compreensão ou a capacidade de análise de ninguém. Mas creio que resultado de uma pesquisa semelhantes com aqueles que nasceram na era pré-digital talvez desse resultado bem parecido.

O que talvez ajude a explicar esse comportamento seja a era da “pós-verdade” em que se vive, quando vale mais a crença de cada pessoa do que a veracidade da informação, com o consequente desprezo pela verdade factual. Ou seja, se está de acordo com o que eu penso, é verdade – e vou compartilhar, sem a mínima preocupação de comprovar se é fato ou invenção. Basta que esteja de acordo com a “minha” verdade.

E o volume de notícias falsas na internet vem aumentando espetacularmente. As notícias falsas em toda a plataforma do Facebook estão se tornando mais lidas e compartilhadas do que as verdadeiras. No Brasil, por exemplo, durante a semana do impeachment, três das cinco reportagens mais compartilhadas no Facebook eram falsas.

Paul Horner, um americano de 38 anos, fez das notícias falsas (que ele chama de sátiras) um negócio lucrativo, no qual ganha milhares de dólares, devido a publicidade anexadas aos seus textos. Para ele, suas histórias influenciaram a vitória de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Horner diz que os seguidores de Donald Trump utilizaram os seus websites “durante toda a campanha”.

Mas Horner não perdoa os leitores que acreditam nele: “As pessoas estão claramente mais tolas; limitam-se a partilhar artigos sem fazer a prova dos fatos”. E continua dizendo ter sido assim que Trump foi eleito: “Ele dizia o que queria e todos acreditavam nele. E quando se mostrava que a notícia era falsa, ninguém se importava porque já a tinha aceitado. É muito assustador”.

Umas das notícias falsas era que o presidente Barak Obama proibiria a execução do hino nacional americano em todos os eventos esportivos. (Lembra os malucos locais a dizerem que o PT quer tornar vermelha a bandeira do Brasil.) Outra notícia inventada por Paul Horner, de que o presidente Barack Obama invalidaria o resultado das eleições, teve 250 mil compartilhamentos no Facebook.

Somente do AdSense (serviço de publicidade do Google), Horner diz receber 10 mil dólares por mês, gerados por cliques em publicidade que as suas notícias falsas atraem. Ele fez disso seu meio de vida, um grande negócio.

Quem disse que mentir não compensa?

NOTAS

Trump
Horner, que diz “detestar” Trump, afirma que, quando alguém descobre que partilhou uma notícia falsa, sente-se mal. Mas não os apoiadores de Trump, que continuavam a partilhar as histórias sem nunca se preocupar em verificá-las.

A palavra do ano
O Dicionário Oxford escolheu “pós-verdade” como a palavra do ano. “Pós-verdade” pode ser conceituada como uma circunstância em que a verdade deixa de ser importante, prevalecendo a crença pessoal em determinado assunto. Para quem odeia Lula, por exemplo, tudo o que se disser dele será “verdade”, mesmo que não haja nenhuma correspondência com a realidade.

Créditos
Folha de S. Paulo: Jovem não sabe distinguir notícia falsa, mostra estudo dos EUA ; Público: “Acredito que Trump está na Casa Branca por minha causa”.

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