Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 22/12/2016 do O POVO.

“Flexibilização”: o sufoco intermitente

O governo do presidente Michel Temer pode ser acusado de tudo, menos de falta de “coragem” para impor sacrifícios aos que podem menos, mantendo os privilégios daqueles que sempre os gozaram. Depois da invenção da aposentadoria post mortem, vem a proposta de “flexibilizar” a jornada de trabalho.

O negócio é também conhecido como “jornada intermitente”, “jornada móvel” ou “jornada variável”, que, a propósito, continua sendo aplicada pela rede de lanchonetes Mc Donald’s, mesmo após acordo judicial com a Arcos Dourados (operadora da franquia no Brasil) para regularização da jornada de trabalho.

O negócio funciona assim: o empregado tem de chegar ao trabalho em determinada hora, ficando à disposição da empresa. Se há pouco movimento, ele vai para uma “sala de lazer” e fica lá, aprisionado, à espera de um novo chamado. Quando é necessário, o sujeito é convocado ao serviço – e a empresa só paga o tempo em que ele fica no balcão, efetivamente.

Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), os empregados assinam o contrato de trabalho sem saber qual o horário de entrada e de saída, nem o tempo de permanência na empresa. Contra essa ilegalidade, o MPT ajuizou ação civil pública contra a empresa em 2013. Para encerrar esse processo e outros que correm em vários estados, a Arcos Dourados assinou acordo judicial na 11ª Vara do Trabalho do Recife.

A empresa se comprometeu a acabar com a jornada variável, a permitir aos funcionários se ausentarem para refeição (o que era proibido); pagar adicionais noturnos e respeitar o intervalo de 11 horas entre uma jornada e outra. Além disso, pagou indenização de R$ 7,5 milhões por dano moral coletivo.

O MPT constatou que o acordo vem sendo descumprido e intimou a Arcos Dourados a responder um relatório até 10 fevereiro de 2017, quando será dará sequência à cobrança da multa pelo descumprimento, definida em R$ 2 mil ao mês, por trabalhador.

É esse modelo, com ecos escravocratas, que o governo Michel Temer quer tornar legal em todo o país.

PS. Com informações do blog Justificando, da revista CartaCapital.

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