Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, jornal O POVO, edição de 29/12/2016.

Aécio já atravessou o Rubicão e não sabe

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo (27/12/2016), o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, derramou-se em elogios ao presidente. Disse que o distanciamento do PSDB do governo, agora, custaria “imensamente caro ao país” e que seu partido deve estar “ao lado de Michel Temer”, em qualquer circunstância.

E traçou um perfil idílico de seu partido. “O PSDB tem uma característica: por mais que existam disputas, nós nos gostamos, acredite nisso. No fundo, somos diferentes, de formações diferentes, mas gostamos de sentar e conversar sobre o mundo, de conversar sobre nada, sabe? São todos homens públicos, gente do bem.” (#sóquenão)

Mas parece que Aécio faltou às aulas de História, levando-se em conta esta sua afirmativa: “Eu conduzirei o partido com as forças que eu puder ter para viabilizar essa agenda de reformas para que nós possamos atravessar o Rubicão e chegar a 2018 com o país melhor”.

Na verdade, o senador já atravessou o Rubicão, mas parece ainda não saber. “Atravessar o Rubicão” tornou-se sinônimo de tomar uma decisão da qual é impossível voltar atrás, um ponto de não-retorno. Portanto ao atravessar o rio, encontrar-se-á, na outra margem, a batalha, a guerra – e não a tranquilidade como pensa o senador.

Aécio começou a atravessar o Rubicão quando entrou com processo no TSE para cassar a chapa que o derrotou nas eleições; depois, trabalhando pelo impeachment de Dilma. E terminou de transpor o rio quando atrelou seu destino ao do presidente Temer, nó que não pode mais desfazer.

A origem do termo remonta ao ano de 49 a.C. O rio Rubicão estava no limite da República Romana e uma lei do Senado obrigava que todos os generais desmobilizassem suas tropas antes de entrar em Roma, para proteger o governo civil. O general Júlio César resolve atravessar o rio com seu exército, desata uma guerra e assume o poder, tornando-se ditador vitalício.

Portanto, atravessar o Rubicão é o início de uma batalha e não o descanso dos tucanos do outro lado do rio, como sonha Aécio.

PS. A melhor metáfora hidrológica continua com Romero Jucá. Ele queria um “boi de piranha” para que ele e sua manada atravessassem tranquilamente o tormentoso rio da Lava Jato.

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