Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 12/1/2017 do O POVO.

Ministério Público: pouco trabalho ou viés político?

Os inacreditáveis agentes do Ministério Público de São Paulo continuam fazendo das suas. Na coluna “Menu Político” (8/1/2017), expus a indigência de processo movido contra 18 jovens que participaram de um ato “Fora Temer”. Na visão do MP, os manifestantes formaram uma “associação criminosa”, e os diligentes promotores querem mandá-los para a cadeia. Porém, o único “crime” desses jovens foi o de pôr em prática uma ideia conhecida nas democracias como “direito à livre manifestação”.

Agora, a Procuradoria-Geral da Justiça iniciou uma investigação criminal contra o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), por trote que ele passou no historiador Marco Antonio Villa. O negócio foi o seguinte: Villa tinha o hábito de verificar diariamente a agenda do prefeito utilizando-a como argumento para ofender Haddad, em programa da rádio Jovem Pan. Acusava-o de “trabalhar pouco”, chegando a xingá-lo de “vagabundo”.

Em 16/5/2016, a agenda de Haddad registrou apenas: “A partir das 8h30min despachos internos”, o que desencadeou as conhecidas críticas de Villa. No mesmo dia, o prefeito revelou o trote em seu Facebook: “(…) resolvemos substituir, por algumas horas, a minha agenda pela de outro político, apenas para vê-lo [Villa] comentar, uma vez na vida, o dia-a-dia de quem ele lambe as botas”. (Suspeita-se que o “outro político” seja o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.)

Pelo mesmo motivo, ano passado, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público já havia aberto processo por improbidade administrativa contra o prefeito. Essa ação, de natureza civil, pode levar à suspensão de direitos políticos e multa. O novo processo tem caráter criminal, isto é, pode condenar Haddad à cadeia, se cair na mão de um magistrado de pouco juízo.

Observando-se a ação contra os manifestantes anti-Temer e vendo-se Ministério Público abrir dois processos por um motivo tão banal contra o prefeito, pergunta-se: está faltando trabalho para o MP paulista ou seus agentes estão agindo a partir de uma perspectiva politicamente enviesada?

PS. Coluna Menu Político: Ministério Público considera “associação criminosa” grupo de jovens do Fora Temer.

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