Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 11/5/2017 do O POVO.

Moro X Lula: o combate que não houve

O encontro de ontem entre Lula e Sergio Moro deve ter frustrado a expectativa de alguns meios de comunicação – especialmente duas revistas semanais – que venderam o evento como o “combate no século”. E o tal duelo não aconteceu por dois motivos: Moro é preparado tecnicamente e Lula é macaco velho em negociações e confrontos: sabe o momento de morder e de assoprar.

Moro valeu-se do mesmo tom monocórdio usado em seus interrogatórios e Lula respondeu respeitando o julgador, ainda que, por vezes, ironicamente. Como era de se esperar, o ex-presidente negou ser dono no triplex, cuja propriedade lhe atribuem. Moro, por sua vez, nada apresentou que pusesse o álibi de Lula em perigo.

De qualquer modo – se não houve a refrega -, o caso sai agora, definitivamente, do terreno jurídico para estabelecer-se como disputa política. O depoimento de Lula marcará a inflexão entre seus apoiadores, que vão intensificar essa estratégia. Os dois atos de ontem em Curitiba, contra e a favor de Lula, servem como confirmação dessa tese. Para quem está contra Lula, não interessam provas, querem vê-lo na cadeia, a qualquer preço. Para os partidários do ex-presidente, nenhuma prova será capaz de demovê-los da ideia de que Lula sofre exclusivamente perseguição política.

(A propósito: muitos dos que saem às ruas supostamente em defesa da Lava jato, são simplesmente contra o PT, pois preservam de críticas outros envolvidos que não os petistas. Por outra vista, há muito gente que apóia a Lava Jato e discorda desses protestos seletivos.)

De qualquer modo, Moro vai defrontar-se com o seguinte dilema, ainda que seu julgamento seja sustentando em provas: se condenar Lula, os partidários do ex-presidente dirão que ele já estava prejulgado; se inocentá-lo, será considerado traidor pelos denominados “apoiadores da Lava Jato”.

PS. Na coluna Menu Político, edição de domingo, volto a tratar do tema.

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