Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 18/6/2017 do O POVO.
Haddad e as desventuras com a mídia
Depois de três colunas seguidas, nas quais abordei problemas relativos aos meios de comunicação, parecia que o assunto estava de bom tamanho, por ora. Porém, um artigo do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), na revista piauí – “Vivi na pele o que aprendi nos livros” – complementa, com exemplos reais, os temas que venho tratando: os malefícios da concentração da propriedade e da falta de diversidade na mídia brasileira – e como isso concorre para solapar a democracia.
Para Haddad, “os grandes grupos de comunicação são geridos
por famílias que pensam da mesma forma e têm a mesma agenda para o país, com variações mínimas. Em momentos cruciais de nossa história, como em 1964 e 2016, atuam em bloco”. Falando do cerco que sofreu da imprensa paulistana, Haddad narra várias casos do tratamento desproporcionalmente negativo dirigido à sua administração pelos principais jornais e emissoras de rádio e televisão.
Ao comentar o que ele considera uma guinada do PSDB para a vertente do “conservadorismo regressivo em relação dos costumes e direitos civis”, o ex-prefeito afirma: “Curiosamente, o veículo que mais respaldou essa pauta foi aquele de quem menos se esperava uma aproximação com o obscurantismo: o jornal Folha de S.Paulo”. Como exemplo, cita o caso do suposto “kit gay”, que Haddad foi acusado, equivocadamente, de querer distribuí-los nas escolas, quando ministro da Educação.
A Folha adotou “kit gay” como “retranca” (palavra ou expressão destacada) para abrir suas matérias sobre o
assunto. Agindo assim, “o jornal deu dignidade a uma abordagem que contribuiu para que o debate sobre direitos civis atrasasse cinquenta anos no país”, afirma o ex-prefeito.
Do jornal O Estado de S. Paulo, Haddad diz ter colecionado 413 editoriais contra a sua gestão. Em um deles (2016), o jornal apostava que, sendo ele um “demagogo”, jamais reajustaria a tarifa de ônibus em ano eleitoral. Quando o aumento foi concedido, o jornal escreveu um “duro editorial” com o título “Cada vez mais caro e ruim”.
A revista Veja São Paulo afirmou (6/2/2015) que as ciclovias da Prefeitura eram as mais caras na comparação com outras nove cidades estrangeiras. Segundo Haddad, a revista desconsiderou a necessidade de enterrar a fiação, a reforma de canteiros e outros serviços. Ele diz ter levado mais de um ano para desmentir o fato. E, quando o Tribunal de Contas do Estado denunciou que uma ciclovia provisória do Metrô de São Paulo havia custado “seis vezes mais que as ciclovias da prefeitura”, a informação teria sido publicada na revista Exame, também da editora Abril, mas de tiragem menor que a Veja.
Quanto à Globo, Haddad diz que o Fantástico fez uma série de
matérias sobre um programa municipal chamado FabLab – laboratórios de impressoras 3D – para fomentar o empreendedorismo. “Não me lembro de que tenham feito (no Fantástico) menção à Prefeitura de São Paulo”.
Porém, esse tratamento, diz, não o incomodava; o pior era quando a matéria jornalística “afetava negativamente a vida dos beneficiários de políticas públicas”, fazendo crescerem “o preconceito e a intolerância em relação aos mais vulneráveis”. Ele atribui à Folha de S. Paulo “grande parte” da responsabilidade pelo fim do programa “De Braços
Abertos”, que, em um ano, segundo ele, reduziu o fluxo de
moradores em situação de rua na Cracolândia, de 1.500 para 500 pessoas, atestado por pesquisa independente da Open Society Foundations.
NOTAS
PATRIMONIALISMO
O título completo do artigo de Fernando Haddad é “Vivi na
pele o que aprendi nos livros – Um encontro com o patrimonialismo brasileiro”. Ele diz que a corrupção no Brasil não é “sistêmica”, pois, se fosse, seria possível pensar um patrimonialismo sem corrupção. Para ele, a corrupção é
“corolário” (consequência) do patrimonialismo, a captura do Estado e de suas instituições para atender a interesses privados, a “antítese da República”.
JUSTIÇA SEM PARTIDO
“O problema é que instituições que deveriam funcionar para,
na forma da lei, dar respaldo a quem ganha as eleições para executar seu plano de governo agem, muitas vezes, de forma facciosa. Hoje a bandeira a empunhar talvez fosse a da “justiça sem partido’”. (F. Haddad)
CRÉDITO
A íntegra do artigo na piauí.
Chora mais Haddad.!
Vou eleger esse comentário como o mais original dos últimos tempos. Talvez envie até para o guia de recordes Guinness. Desde que o brilhante autor do comentário autorize, é lógico.
Pior Prefeito do século!
Coitadinho do Haddad.
Como a população paulista foi injusta com esse Prefeito que só pensou no melhor para eles.
O choro é livre.
Sempre a culpa é da imprensa, ou do capitalismo, ou dos americanos.
Será que faltou marqueteiro em sua campanha?
Como pode o adversário ganhar logo em primeiro turno!
E Plinio ainda diz não ser obcecado pelo PT.
Rapaz, você é concorrente do André ou formam uma dupla? (Esse negócio de “obcecado” você copiou de mim; tente ser original pelo menos uma vez, creio que vai lhe fazer bem.)
Abraço.
Destaco.
os temas que venho tratando: os malefícios da concentração da propriedade e da falta de diversidade na mídia brasileira – e como isso concorre para solapar a democracia.
E comento:
Não há ninguém que conteste?
Os jornalistas são todos cordeirinhos mansos que aceitam tudo?
Felizmente aqui no Ceará temos ou tivemos jornalistas como Eliomar de Lima, Adísia Sá, Érico Firmo, Demitri Túlio, Ivonete Maia ou José Raymundo Costa que agem de modo diferente.
Em São Paulo não existe um só?
A imprensa paulistana fez um cerco ao Prefeito?
Todos os 413 Editoriais eram injustos?
Ninguém aceitou publicar uma resposta ou nota de esclarecimento?
Nenhum eleitor de Haddad ou de sua assessoria contestou?
Não o defenderam?
Dê uma pesquisada para descobrir, se você está tão curioso. Talvez você possa escrever um tratado ou pelo menos um artigo.