Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 23/7/2017 do O POVO.
Depois de raspar o tacho, “mercado” apunhala Lula
Luiz Inácio Lula da Silva, o retirante de Garanhuns, é odiado pela elite brasileira não pelos seus muitos defeitos, porém pelas suas qualidades. O retrato acabado dessa realidade foi o destaque de vários jornais – e poderia ser resumido assim: “Mercado financeiro comemora a condenação de Lula”.
Além de mesquinha, essa banda de agiotas é mal agradecida e traiçoeira. Enquanto Lula lhes serviu, estava tudo bem. O próprio Lula lembrou várias vezes que os banqueiros nunca haviam ganhado tanto dinheiro quanto nos mandatos dele. De fato, alguns estudos mostram que os bancos lucraram oito vezes mais no governo Lula comparado aos mandatos de Fernando Henrique Cardoso. Mas FHC é confiável; Lula não faz parte do clube dos paulistas quatrocentões, ou nem tanto, desde que milionários.
(Já escrevi artigo classificando Lula como “pai dos pobres” e “mãe dos ricos”; ele conseguiu – quando detinha o poder – agradar às duas pontas da pirâmide social.)
Agora que o ex-presidente abandona o “Lulinha paz e amor” e tenta voltar ao “hoje eu não tô bom” – como anunciava o personagem João Ferrador, símbolo do velho Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo -,Lula não presta mais. E o “mercado” crava-lhe um punhal nas costas. Mas entenda-se: parece traição apenas para os simplórios que imaginam a existência de algum tipo de conciliação duradoura entre a “mão invisível do mercado” e algum tipo de política social – pelo menos com a rala qualidade da súcia de negocistas brasileiros. Esse tipo de gente só presta culto ao imediatismo e a um tipo de deus: o Dinheiro.
De repente – se voltar à Presidência -, premido pelas bases, Lula poderá ser incentivado a ir além da retirada de 30 milhões de pessoas da pobreza com a mera distribuição de Bolsa Família; pode ficar disposto a fazer mais do que distribuir bolsas e financiamento para universitários; a ir além das cotas para pretos, indígenas e pobres; talvez se anime a fazer evoluir a reforma agrária. É capaz de fazer a reforma tributária, obrigando os ricos a pagarem impostos de acordo com suas posses; pode chegar ao ponto de fazer uma auditoria na vida pública e reduzir a agiotagem dos bancos. E, ainda, a implementar a regulamentação da mídia, acabando com o pensamento único que ameaça a democracia. Horror dos horrores, melhor não arriscar.
(Observe a cobertura da reforma trabalhista pelas TVs; é provável você se convencer de que a classe trabalhadora, finalmente, chegará ao paraíso.)
Lula é culpado ou inocente no caso do triplex? A dúvida que vai perdurar. Mas notem que o Ministério Público não encontrou nenhuma prova direta que o incriminasse. E pensem: estima-se terem sido roubados mais de 20 bilhões de reais da Petrobras. E Lula, o “chefe da organização criminosa”, ficou apenas com um triplex mal ajambrado e a reforma de um sítio com dois pedalinhos? E, ainda assim, suborno recebido bem depois de ele ter deixado a Presidência? Segundo a sentença do juiz Sergio Moro, o “acerto de corrupção” foi concluído em 2014, quatro anos após Lula ter deixado o mandato, em 2010. Para o juiz, o fato de Lula já não estar mais no governo seria desimportante, “uma vez que as vantagens lhe foram pagas em decorrência de atos do período em que era presidente”. Lula não teve o direito ao princípio jurídico “na dúvida, a favor do réu”.
(Comparem com o que arrecadou Sérgio Cabral, ex-governador do Rio: de apenas uma de suas contas no Exterior foram repatriados 80 milhões de dólares.)
Portanto, os que comemoram a prisão de Lula não se regozijam porque agora “todos são iguais perante a lei” (Aécio Neves e Geddel Vieira Lima que o digam). Festejam a possível derrocada de uma política que, bem ou mal, tentou fazer do Brasil um país um pouco menos injusto. E isso é intolerável para uma elite que ainda ressoa a escravocrata e para aquela classe média ignorante que come sardinha e arrota caviar (ali em Miami).
NOTAS
MORO
O juiz Sergio Moro ateve-se, segundo disse, apenas aos argumentos jurídicos para condenar Lula. Mas a sua sentença é uma peça política, pois sentiu-se obrigado a dizer-se imparcial e a explicar-se seguidamente, justificativas dispensáveis em uma sentença.
POLÍTICA
A prova de que a política moveu a mão de Moro está na sentença. O juiz escreveu que Lula deveria ser recolhido à cadeia, cautelarmente. Mas, como a prisão de um ex-presidente “envolve certos traumas”, resolveu deixá-lo livre. Se isso não for política, me digam o que é.
O pobre retirante tem nove milhões de razão de….
Depois de tão lúcida análise estou convencido que o bandido …
Gostei do seu linguajar, André. Com argumentos assim você vai conseguir muitos seguidores com a sua mesma qualidade. 😉
O André com esse argumento aí deve ser um esquizofrênico, já tomou teu lexotan hoje?
Caríssimo Jornalista:
Sua análise além de muito clara, é o espelho da elite brasileira…..
Ter nove milhões em Previdência, declarados no Imposto de Renda e não em Bancos no exterior é a prova mais contundente da honestidade de lula.
Lembrando IBSEN, o homem poderoso é o que está só.
Parabéns pela coragem em dizer a verdade.
DESTACO:
tentou fazer do Brasil um país um pouco menos injusto
Uma tentativa muita tímida….
Os poderosos são injustos, sim, pois Lula os beneficiou.
Segundo Mailson da Nóbrega o país gasta com subsídios do BNDES mais do que com o Bolsa Família.
Cito Eliane Cantanhede,
Enquanto amealhava R$ 9 bilhões do BNDES, mais uns R$ 3 bilhões da CEF, mais sabe-se lá quanto de outros bancos públicos nos anos beneficentes de Lula, Joesley saiu comprando governos, partidos e parlamentares.
O BNDES, banco de fomento do desenvolvimento nacional, foi usado para fomento de empregos, fábricas e crescimento nos Estados Unidos, onde Joesley e o irmão, Wesley, usaram o rico e suado dinheirinho dos brasileiros para comprar tudo o que viam pela frente. Detalhe sórdido: os frigoríficos que adquiriram lá competem com os exportadores brasileiros de carne. Uma concorrência para lá de desleal.
Cito também Gurovitz:
Certamente Campos ficaria horrorizado com a deturpação de outra de suas criações: a transformação do BNDES no principal mecanismo por meio do qual governos passaram a distribuir dinheiro com a nefasta política de “escolha dos vencedores”, que culminou, nos governos Lula e Dilma, na destinação de 10% do PIB brasileiro a empresas amigas, entre as quais o maior destaque é a Odebrecht.
Vai desculpando aí, Paulo Marcelo, mas não estou a fim de ler citações: rapaz, busque pelo menos um pensamento original. De qualquer modo, está liberado para quem tiver disposição para se interessar pela sua curadoria.
DESTACO:
tentou fazer do Brasil um país um pouco menos injusto
COMENTO:
Uma tentativa muita tímida….
Os poderosos são injustos, sim, pois Lula os beneficiou.
Segundo Mailson da Nóbrega o país gasta com subsídios do BNDES mais do que com o Bolsa Família.
Cito Eliane Cantanhede,
Enquanto amealhava R$ 9 bilhões do BNDES, mais uns R$ 3 bilhões da CEF, mais sabe-se lá quanto de outros bancos públicos nos anos beneficentes de Lula, Joesley saiu comprando governos, partidos e parlamentares.
O BNDES, banco de fomento do desenvolvimento nacional, foi usado para fomento de empregos, fábricas e crescimento nos Estados Unidos, onde Joesley e o irmão, Wesley, usaram o rico e suado dinheirinho dos brasileiros para comprar tudo o que viam pela frente. Detalhe sórdido: os frigoríficos que adquiriram lá competem com os exportadores brasileiros de carne. Uma concorrência para lá de desleal.
Cito também Gurovitz:
Certamente Campos ficaria horrorizado com a deturpação de outra de suas criações: a transformação do BNDES no principal mecanismo por meio do qual governos passaram a distribuir dinheiro com a nefasta política de “escolha dos vencedores”, que culminou, nos governos Lula e Dilma, na destinação de 10% do PIB brasileiro a empresas amigas, entre as quais o maior destaque é a Odebrecht.
O dono da bola é o colunista.
Sou apenas convidado a participar do “racha”.
Além do mais testão sem conteúdo…
Por fim os idólatras de Lula são no minimo cegos, surdos e loucos.
Quase esqueci, chorem mais. Tá divertido.
Kkkk
Textão sem conteúdo, mas você sempre lê, hem, André? Vou mantê-los assim para continuar a merecer a sua audiência superqualificada. Gostei principalmente do argumento de nível elevadíssimo, o “Kkkk”.
Como sempre, uma excelente análise.
Prezado Plínio.
Seu artigo é lúcido, realista e corajoso. Sou de opinião de que não devemos ter ídolos na Política, mas sua análise “Lula x Mercado” é inapelavelmente exata. O mais, são ódios e ignorâncias ancestrais…
SDS, Mauro