Reprodução da coluna “Menu Político”, caderno “People”, edição de 12/11/2017 do O POVO.

Moeda virtual preocupa banqueiro

Muita gente já deve ter ouvido falar, outros nunca, a respeito da “moeda virtual” bitcoin, cujo símbolo é a letra “B” trespassada por dois traços verticais. O bitcoin não é a única, porém é a mais famosa “moeda criptografada” que circula na internet. É virtual – as transações são feitas pela troca de bits -, não sendo impressa fisicamente. Além disso, nenhum banco, autoridade central ou governo a certifica, como acontece com o real, com o dólar ou com cartões de crédito, por exemplo.

O sistema que organiza o bitcoin é descentralizado, sem um grande servidor responsável pelo seu gerenciamento. Quem faz isso é um sistema matemático, usando uma tecnologia chamada blockchain, que processa e valida as transações efetuadas na rede. O bitcoin pode ser usada para compras – muitas lojas na internet já a aceitam – e para investimento. A cotação da moeda varia; na última consulta que fiz, um bitcoin estava valendo mais de R$ 20 mil.

Até hoje não é bem explicada a origem do bitcoin. Em algumas publicações, a criação da moeda é atribuída a “Satoshi Nakamoto”, possivelmente o pseudônimo utilizado por um grupo de programadores, nunca identificados, que lançaram a moeda em 2009. Porém, a moeda criptografada tornou-se tão importante que começa a preocupar os bancos tradicionais.

Em recente conferência para investidores em Nova York, o presidente do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, classificou o bitcoin como fraude. “Vocês não podem ter um negócio em que inventam uma moeda a partir do nada e achar que as pessoas que a estão comprando são realmente inteligentes” – e vaticinou que o negócio iria “explodir”.

Dimon associou a moeda a atividades criminosas: “Se você fosse um traficante de drogas, um assassino, seria melhor fazer as transações em bitcoin em vez de usar dólares”. De fato, o bitcoin permite que os pagamentos sejam feitos anonimamente; por isso, é a moeda preferida para transações ilegais e pedidos de resgate por hackers.

Mas, a rigor, mesmo uma moeda física, certificada por governos, também é “virtual”. Dinheiro é apenas papel pintado. O que garante o seu valor é a “narrativa” em torno da moeda, a confiança de que certa quantidade de dinheiro compra certa quantidade de mercadorias ou de serviços.

Tanto é verdade que até sal e conchas já foram usados como dinheiro na história da humanidade. Se houvesse, por exemplo, uma corrida mundial aos bancos e todos clientes quisessem sacar seus depósitos ao mesmo tempo, haveria colapso do sistema financeiro, que arrastaria a humanidade ao caos.

Quanto ao uso em operações criminosas, o bitcoin é apenas “aperfeiçoamento” dos paraísos fiscais, para onde vai o dinheiro da corrupção ou do crime, faturado em moedas tradicionais. O fato de o bitcoin ser mais difícil de rastrear não muda a essência do problema.

Certo também de que a bolha do bitcoin pode explodir, como muitos fenômenos surgidos na internet. Porém, em 2008, também estourou a bolha imobiliária nos Estados Unidos, lesando milhares de americanos. Vários bancos estavam envolvidos na pirâmide de venda de títulos podres, incluindo o JP Morgan.

E, a propósito, não parece que o representante de um banco com tal histórico seja a pessoa mais indicada para dar lições de ética sobre o “mau uso” do dinheiro, seja ele “real”, seja ou criptografado.

Mas, cuidado, de fato, o bitcoin pode ser mais uma das “bolhas” da internet, que pode papocar a qualquer momento, deixando os investidores a ver navios virtuais.

NOTAS

INVESTIMENTO
Existem corretoras especializadas em vender bitcoins. Pesquisa na internet revela várias histórias fantasiosas de pessoas que ficaram ricas do dia para a noite aplicando na moeda criptografada. Mas não se anime: sendo virtual ou real, quando se trata de dinheiro, a suposta mágica da multiplicação pode esconder embustes.

CRÉDITO
Revista Brasileiros: Para presidente do JPMorgan, bitcoin é uma fraude e vai “explodir”.

Tagged in: