Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 4/1/2018 do O POVO.

O homem do botão maior

O jornal Folha de S.Paulo (2/1/2018) traz longo artigo de Ricardo Hausmann, cujo título resume o enunciado: “Intervenção militar estrangeira na Venezuela deve ser considerada”. Ele é ex-ministro do Planejamento da Venezuela (1992-1993), ex-economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento e diretor do Centro para Desenvolvimento Internacional da Universidade Harvard.

Hausmann faz um resumo da situação crítica na qual vive Venezuela, afirma que a saída negociada seria a “opção preferida”, mas “a intervenção militar por uma coalização de forças regionais talvez seja o único meio de pôr fim à penúria causada pelo homem (o presidente Nicolás Maduro) que ameaça a vida de milhões de Venezuelanos”.

Ele não cita quais países fariam parte dessa “coalizão”, porém, por óbvio, ela somente seria possível se o Brasil, o país mais importante da região, embarcasse com armas e bagagens nessa aventura insana.

Apesar de seu lustroso currículo, Hausmann é apenas o boneco ventríloquo de Donald Trump, o homem que se gaba de ter um botão nuclear “muito maior e mais poderoso”, comparado ao de Kim Jong-un, ditador da Coreia do Norte. (Com uma declaração desse tipo, qualquer primeranista de psicologia classificaria como vulgar, no mínimo, a personalidade do presidente americano.)

Como a Venezuela não dispõe de mísseis atômicos para Trump comparar o tamanho dos botões, ele quer encarregar países latino-americanos do serviço sujo. Em setembro do ano passado, quando o presidente Michel Temer visitou os Estados Unidos, ele participou de um jantar com Trump, juntamente com outros líderes da América Latina: Juan Manuel Santos (Colômbia), Juan Carlos Varela (Panamá) e Gabriela Michetti (vice-presidente da Argentina). Na ocasião, Trump os pressionou a iniciar uma ação militar contra a Venezuela, no que foi rechaçado.

Sem uma guerrinha para chamar de sua no continente americano, Trump partiu para desafiar Kim Jong-un na base do “o meu é maior do que o seu”. Os dois se merecem, pois parecidos.

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