Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, edição de 11/1/2017 do O POVO.
De Bolsomito a Bolsominto
Deve ter sido assombroso para os aduladores de Jair Bolsonaro descobrir que o cândido deputado guarda alguns esqueletos no armário. Ou talvez nem liguem muito. Para seus seguidores isso será considerado apenas detalhe, pois o importante é mantê-lo como a figura representativa do “conservador nos costumes e liberal na economia”.
Pois não é que a Folha de S. Paulo – a imprensa sempre a importunar quem está quieto – fez levantamento em cartórios do Rio e Brasília e descobriu que o deputado e três de seus filhos (também políticos) são proprietários de 13 imóveis no valor de R$ 15 milhões? A rigor, não haveria problema nenhum, pois quem tem dinheiro pode usá-lo do jeito que achar melhor: guardar em malas ou investir em imóveis.
Mas Bolsonaro, quando iniciou-se na política, em 1988, era um modesto capitão do Exército, cujos bens declarados resumiam-se a uma moto e um carro velhos e dois lotes de pequeno valor. Pode-se dar a ele o benefício da dúvida: em 30 anos, a família, sendo econômica, poderia ter ajuntado os recursos, ainda que isso não seja muito comum. Porém, o boom dos negócios da família Bolsonaro começou há dez anos, aí já fica mais difícil explicar o crescimento acelerado do patrimônio.
Nos últimos 13 anos – afirma a Folha – somente o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSC-RJ) negociou 19 imóveis e fez “transações relâmpago” na atividade. Quando entrou na política (2002), tinha um Gol 1.0; hoje tem dois apartamentos e uma sala que, segundo a prefeitura, valem R$ 4 milhões. Mas, talvez, ele seja um “Ronaldinho” dos imóveis, a exemplo de Lulinha nos negócios.
Frente aos fatos, a reação de Bolsonaro e filhos foi a mesma de qualquer político: classificaram a reportagem da Folha de “calúnia” e “mentira”, mas não responderam a nenhuma das perguntas enviadas pelo jornal, pedindo explicações sobre o crescimento do patrimônio familiar.
Os bolsonaristas, enlouquecidos para ver Lula condenado pela suposta propriedade de um triplex, que lhe teria sido dado como suborno, deveriam ter o mesmo comportamento com seu ídolo, exigindo provas de sua lisura.
Alguns podem ler da seguinte maneira:
primeiro parágrafo:
Deve ter sido assombroso para os aduladores de LULA descobrir que o cândido ex-presidente guarda alguns esqueletos no armário. Ou talvez nem liguem muito. Para seus seguidores isso será considerado apenas detalhe.
último parágrafo:
Os lulistas, enlouquecidos para ver Bolsonaro condenado por propriedade que lhe teria sido dado como suborno, deveriam ter o mesmo comportamento com seu ídolo, exigindo provas de sua lisura.
Plinio está obcecado por Bolsonaro ou Affonso Taboza?
Os de Lula já estão expostos, caro Paulo Marcelo. Mas do Bolsonaro, não. Agora vão começar a aparecer as contradições entre discurso e prática do cândido candidato. E, a única resposta que ele terá, vai ser o grito, com o qual ele pensa que amedronta jornalistas. Ele ainda não entendeu que a sociedade não é quartel, no qual seus subordinados tinham que bater-lhe continência. De qualquer modo fico-lho agradecido pela revisão. Continue tentando.