Em entrevista ontem à radio O POVO/CBN, no programa O POVO no Rádio (Luiz Viana), o general da reserva Guilherme Theófilo — pré-candidato a governador pelo PSDB — afirmou que está faltando “autoridade” ao governo do Estado para enfrentar a criminalidade. A frase pode ser atribuída à sua formação castrense ou ao fato dele querer agradar os “bolsões sinceros, mas radicais” que estão a apoiar as candidaturas militares em todo o país.

Normalmente, os que falam em “autoridade” complementam com um “eu prendo e arrebento” ou acham que a bandidagem vai desaparecer, na base da bravata, como gosta de fazê-las o atual secretário da Segurança Pública, André Costa.

Mas o general complementou o seu pensamento afirmando que segurança pressupõe investimentos em “fiscalização, inteligência e tecnologia”. Também admitiu, a partir de uma pergunta do apresentador, que reduzir a desigualdade social ajuda a diminuir a violência. Menos mal.

Sobre a participação dos militares na política, ele manifestou-se contra a atuação dos que estão na ativa. Mas disse que, na reserva, esse direito lhes é assegurado como a qualquer outro cidadão.  Disse ser oportuna a participação dos militares “nesse momento” em que seria preciso “mais ética, honestidade e transparência na política. E completou: “São valores que, na caserna, nós cultuamos durante os 45 anos em que eu passei no Exército”.

Se o general está atribuindo a ele, individualmente, essas qualidades, não tenho como contestá-lo. No entanto, se a sua fala for generalizante, há divergências. Até hoje o Exército não prestou contas à sociedade brasileira dos terríveis acontecimentos que protagonizou no período da ditadura: tortura, desaparecimentos e mortes.

Recentemente foi divulgado um documento da CIA (a central de inteligência americana) — que Theóphilo classificou como “fake news” –, mostrando que a ordem para executar “subversivos” tinha uma cadeia de comando que chegava aos generais presidentes. Assassinar prisioneiros é crime, inclusive em guerras. Onde está a ética e a honestidade?

Quando os jornais pediram os documentos da época, para cotejar com o informe da CIA, o Exército adotou um procedimento padrão, emitindo uma nota sobre o assunto:

“O Centro de Comunicação Social do Exército informa que os documentos sigilosos, relativos ao período em questão e que eventualmente pudessem comprovar a veracidade dos fatos narrados, foram destruídos, de acordo com as normas existentes à época – Regulamento da Salvaguarda de Assuntos Sigilosos (RSAS)”. Observem: o Exército não nega a veracidade do documento da CIA, apenas alega não ter documentos que pudessem confirmar o informe.

O Exército Brasileiro poderia, pelo menos, mostrar os relatórios que confirmem que os papéis foram destruídos, pois existem normas para a eliminação de documentos públicos. Onde está a transparência?

Até uma explicação mais plausível, vai restar ao general Theóphilo repetir “fake news”, que é o jargão usado por qualquer político quando uma notícia o contraria.

> Ouça a entrevista na íntegra.

Tagged in:

,