O governo do presidente Michel Temer começou de modo lamentável — uma conspiração para afastar Dilma Rousseff, uma presidente legitimamente eleita — e vai terminar de forma abominável, com um presidente fraco e isolado, tendo de apelar para as Forças Armadas para sustentar-se no fiapo de autoridade formal que lhe resta.

Os transportadores – aqui incluídas as empresas – puseram o governo de joelhos. O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) chegou à reunião com os representantes dos caminhoneiros “humildemente”, na noite de ontem (24/5/2018) para entregar-lhes “tudo o que pudesse”. E os homens enfiaram a faca. Mesmo assim, a greve continua hoje, no seu quinto dia. E amplia-se. Restou a Temer apelar para as Forças Armadas, pela segunda vez em seu curto governo.

E, como em filmes vagabundos, acharam logo um culpado: o mordomo. Isto é, os impostos sobre os combustíveis, um negócio bem ao gosto dos patos. Por isso, o remendo de reduzir a carga sobre o óleo diesel foi a primeira proposta a surgir nas brilhantes mentes dos homens do governo.

Mas, a carga tributária no Brasil é alta? Depende. Ela pesa enormemente nas costas dos pobres e da classe média, pois recai ferozmente sobre produtos e serviços, porém é mansa para taxar a renda e os super-ricos. Entretanto, sobre isso, pouca gente quer falar.

Colunistas “de grife” e liberais de fancaria preferem fazer pressão sobre os governadores para que reduzam o ICMS sobre os combustíveis. Por que não contextualizam o assunto para dizer que esse remendo vai logo se esgarçar? Por que não põem na roda do debate o verdadeiro problema, qual seja, que o Brasil precisa de uma reforma tributária que torne mais justa a cobrança de impostos? Não falam porque isso fere os interesses da elite e do “mercado”. Os embusteiros preferem ficar na superfície, incluindo a esquerda, que perdeu a oportunidade de mexer nesse sistema injusto nos quase 15 anos que permaneceu no poder.

Agora, será preciso mandar o Exército para desbloquear as rodovias, obrigando os motoristas a moverem seus caminhões ou tomando-lhes os veículos, caso não façam. Mas o problema tende a se ampliar.

Os trabalhadores que precisam usar gasolina em seu trabalho, vão ter os mesmo benefícios que tiveram os caminhoneiros? Motoristas de aplicativos, de vans escolares e motoboys começam também a se movimentar. Significa que o governo continuará a ter dor de cabeça. Se cedeu para um, terá de ceder para todos.

A situação revela ainda que a “ponte para o futuro” de Temer era menos do que uma pinguela, como a classificou o grão-mestre tucano, Fernando Henrique Cardoso. Era apenas uma mentira, sobre a qual se edificou o impeachment, também conhecido como golpe, que agora desmorona.

De resto, Temer é um presidente que entrou pela porta dos fundo e vai sair pelo mesmo lugar.

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