“Se os conspiradores políticos imaginaram que bastava assumir a Presidência para ‘pacificar’ o Brasil, caíram no conto do vigário, quero dizer, do ‘mercado’, o principal indutor das políticas do governo Temer, que está sendo usado para fazer o serviço sujo. Se vai conseguir, não se sabe – os dados ainda estão rolando -, mas o certo é que, ao fim do jogo, independentemente do resultado, o impopular Temer será peça inservível, e o ‘mercado’ dar-lhe-á um chute na mesóclise e deixá-lo-á na rua da amargura.” (Trecho final de do artigo “O que aprendi no movimento estudantil”, que escrevi para a extinta coluna “Menu Político”, O POVO, 13/11/2016.)

Independentemente de a responsabilidade do problemas de hoje serem dos governos do PT (uma parte efetivamente o é), o então vice-presidente Michel Temer foi vendido como solução para superar todas as mazelas pelas quais o país passava: uma luminosa “ponte para o futuro”. Os muito espertos (os que sempre se locupletam) venderam para os muito tolos  a ilusão de “recolocar o Brasil nos trilhos” (Temer), que foi comprado pelo valor de face, sob o incentivo dos muitos colunistas “de grife”, espalhados pela imprensa do Sul/Sudeste.

Claro estava — e nem era preciso ser íntimo dos “bastidores” de Brasília para para entender isso –, que se construía uma ficção em torno de Temer, com o objetivo de atender os interesses da elite e para “estancar a sangria” da Lava Jato, essa parte interessava diretamente círculo íntimo do “Michel” e de seus amplos arredores. Dessa turma, cinco já foram ou estão presos e outros tantos estão enrolados com a Justiça, inclusive o chefe, Michel Temer.

Pois bem,  mas era só “tirar a Dilma e o PT” que todos os problemas estariam resolvidos. Deu no que deu: um governo tíbio que, a cada problema precisa clamar pelo socorro das Forças Armadas. Com Dilma estaria melhor ou pior? Difícil dizer. Porém, não se teria rompido o mandato de uma presidente eleita pelo voto popular, apeada do poder com a vergonhosa desculpa de uma “pedalada fiscal”. Golpe que, inevitavelmente traria mais problemas do que soluções.

O que acontece agora?

1. Temer foi abandonado pelo “mercado” (leia-se rentistas e a elite brasileira), pois já não manda nada. Sendo um senhor volúvel, o “mercado” só aceita vassalos enquanto eles são úteis. Deixaram também o presidente a ver navios seus fiéis aliados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eunício Oliveira (MDB-CE), que lhe garantiram vitórias robustas na Câmara e no Senado, respectivamente. A rigor, Temer está acuado e só, defendido somente pela sua guarda pretoriana, comandada pelo incansável (faça-se justiça) Carlos Marun.  

2. O presidente conseguiu o impensável: uniu a direita e a esquerda; liberais e estatistas; os ricos, a classe média e os pobres. Por motivos diferentes, mas todos contra o governo. Parafraseando o ex-presidente Fernando Collor, Temer poderia dizer: “Deixei a direita e a esquerda indignadas e perplexas”.

Agora, a greve dos caminhoneiros descamba perigosamente para a politização da pior espécie: crescem os grupos pedindo intervenção militar. As entidades empresariais e as que representam os trabalhadores brincam com fogo ao emitirem notas de apoio incondicional ao movimento, sem fazer ressalva condenando os inaceitáveis pedidos de intervenção militar por parte dos grevistas

Por mais justa que sejam as reivindicações dos caminhoneiros, elas não podem estar acima da democracia, sem o que tudo estará perdido.