Imagine a seguinte situação: um movimento popular qualquer resolve fechar as rodovias reivindicando mais verbas para a saúde, para a educação e para a moradia. O que aconteceria? Muito provavelmente, uma leva de “cidadãos de bem” classificaria os manifestantes de “vagabundos”, mesmo sabendo o seguinte:

1. Pessoas pobres, dependentes do Sistema Único de Saúde (SUS), enfrentam  filas todos os dias em hospitais e esperam anos por cirurgias eletivas (pré-marcadas). Nesse percurso, muitas tem seus problemas agravados e outras morrem sem atendimento. Ou seja, a irritação que muitos consumidores enfrentaram para abastecer seus carros durante a greve dos caminhoneiros, faz parte do dia a dia de milhões de brasileiros, devido a um problema muito mais grave do que simplesmente encher o tanque de gasolina.

2. O Brasil tem um déficit habitacional de 6,355 milhões de domicílios, o número de residências necessário para acomodar pessoas que hoje moram nas ruas ou precariamente. (Estudo da Fundação João Pinheiro com dados do IBGE.)

3. O corte na educação será nas universidades, cancelando-se bolsas de estudo relativas ao Programa de Estímulo à Reestruturação das Instituições de Ensino Superior. Sem falar no drama do ensino fundamental e médio, a pesquisa científica no Brasil passa por uma fase de indigência.

Além do SUS, universidades e habitação (Programa Moradia Digna), vão perder dinheiro a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a infância (Programa Criança Feliz), entre outros setores. No total, a tesourada em áreas essenciais foi de R$ 3,82 bilhões.

Esse dinheiro, sequestrado das áreas sociais, servirá para subsidiar o preço do óleo diesel, que chegou a preços estratosféricos, pois a Petrobras — sob Pedro Parente — passou a dedicar-se ao deus-mercado, à custa do sacrifício dos cidadãos brasileiros.

Se era insustentável manter a política de compressão de preços do combustível do governo anterior, o negócio piorou quando esticou-se para o outro lado, ao ponto de a corda arrebentar-se, com efeitos colaterais para toda a sociedade.

Agora, depois do combustível derramado, até mesmo “liberais” e colunistas de “grife”– que aplaudiam a gestão de Parente à frente da Petrobras — estão dizendo que o homem “exagerou”. Procurem nos artigos do jornalistas e “liberais”, fãs de Parente, se eles, alguma vez, fizeram algum tipo de crítica à gestão que acabou por levar o desastre às rodovias. Mas é claro que a responsabilidade dele é subsidiária, sendo o principal culpado aquele que o nomeou.

Registre-se ainda que não faltou apoio incondicional — da direita e da esquerda, ainda que por motivos diferentes — à greve dos caminhoneiros, apesar da violência, dos bloqueios e das palavras de ordem pela intervenção militar, que um grupo de parvos levou à frente.

(Como os R$ 0,46 centavos da redução do preço do diesel chegará à bomba do posto? Tabelar-se-á os preços e far-se-á convocação aos Fiscais do Sarney?)