Artigo publicado no jornal O POVO, editoria de Opinião, edição de 9/8/2018
Na edição de 6/6/2018, deste jornal, meu colega Guálter George considerou “esquisita” a decisão do Partido dos Trabalhadores (PT) em homologar Lula como candidato da sigla, apesar de ele estar preso em Curitiba. Somou-se a essa esquisitice uma outra, a do Partido Socialista Brasileiro (PSB) – de longa tradição na cena política – ao declarar “neutralidade” (em relação às candidaturas de esquerda) nas eleições que se aproximam, abandonando o candidato Ciro Gomes (PDT), com o qual negociava possível acordo.
Chegou-se a esse arranjo, ao que consta, devido à intervenção direta de Lula. E os motivos podem ter sido dois: 1) O ex-presidente avaliou que, com duas candidaturas fortes de esquerda, haveria o risco de nenhuma delas conseguir chegar ao segundo turno; 2) Lula conjecturou que, mesmo com duas candidaturas de esquerda, havia a possibilidade de uma delas ir ao segundo turno, mas não queria correr o risco de o PT ser superado pelo PDT na disputa, portanto buscou isolar Ciro.
O que Guálter diz é que o movimento do PT, ao retirar o PSB da órbita do PDT, dinamitou qualquer possibilidade de um partido apoiar o outro em um eventual segundo turno. Em termos, por dois motivos: 1) no mundo da política, os inimigos de hoje podem ser os melhores amigos de amanhã, exemplos há de sobra, inclusive no Ceará; 2) o segundo turno será uma nova disputa, cuja configuração ainda está indefinida, portanto, tudo está em aberto, inclusive alianças, costuras, acertos e consertos.
Suponho, portanto, que tenha sido a lógica fria do “PT em primeiro lugar”, que levou o partido a dar “uma punhalada nas costas” de Ciro Gomes.
A propósito: 1) o PT aprovou em sua convenção um candidato a presidente que não será candidato e um vice que não será vice, escalando Manuela d’Àvila (PCdoB) para o banco de reservas; 2) mulheres ganham destaque nesta eleição, porém, ainda de forma secundária: entre as 13 candidaturas, há quatro vices mulheres (cinco quando Manuela for incluída); somente a chapa Marina Silva (Rede) e Eduardo Jorge (PV) inverte o sentido tradicional.
PS. Para ler o artigo de Guálter George, “Estratégia confusa, se o objetivo é unir” (https://goo.gl/WKm9dm).
Aqui em Brasília e muita gente do centro-oeste, do sudeste e do sul que conheço e converso me dá a percepção que o PT não chega no segundo turno se depender destas regiões. O Haddad dá como certo o apoio em massa do nordeste, mas eu desconfio disso e do norte não tenho como falar. Acho que quem tem chance real de segundo turno é o Bolsonaro, o Alkmin e o Ciro com a Marina no mesmo nível do Haddad. Se as motivações do PT forem essas que você elencou, eles apostaram num tudo ou nada… mas também desconfio que essas motivações são secundárias. Penso que eles tentam criar um “fato novo” com Lula como candidato a fim de obterem o “aguardar julgamento em liberdade”. Certamente o Ciro sabe disso, apesar de não comentar quando se queixa. Até por isso acho que se ele passar para o 2º turno vai querer o PT junto sim.
Desesperadora a situação do eleitor brasileiro. Tantos candidatos e nenhum que inspire a menor confiança na mudança de rumos para melhor.