É estarrecedora a história contada pelos jornalistas Carlos Mazza e Jáder Santana sobre bandidos que usam aplicativos de transportes para praticar crimes. A série de reportagens no O POVO foi iniciada hoje (17/8/2018) e prossegue pelo menos até amanhã.

Para a edição de hoje, ele apuraram que um motorista do 99Pop, utilizando nome falso, cadastrou-se no aplicativo e passou usar o carro para praticar estupros, tendo já confessado quatro violências desse tipo, mas a polícia suspeita que ele tenha feito 10 vítimas. É agoniante ler o relato de uma das vítimas, que sucumbiu a tapas, socos, estupro e roubo, sendo depois abandonada em uma rua deserta.

Na edição de amanhã (17/8/2018), a reportagem mostra como se desenvolve na internet um comércio ilegal de cadastros de aplicativos de “transporte compartilhado”, como 99Pop e Uber, por meio de empresas de vendas virtuais como OLX, Mercado Livre e também no Facebook. Com supervisão da polícia, os repórteres compraram um desses cadastros: o preço começou em R$ 200, mas saiu por R$ 100.

Do mesmo modo, um criminoso pode comprar um cadastro. Depois, é só trocar a foto e passar a operar como motorista de aplicativo, esperando tranquilamente que a vítima venha até ele, confiando no serviço. Assim, caso cometa um crime, o rastreamento levará até o dono original da inscrição.

Confrontada com a reportagem do O POVO, a 99Pop emitiu uma nota em que classifica os estupros como “incidentes”, evitando chamar o crime hediondo pelo seu nome. Disse ainda que bloqueou dois perfis denunciados por passageiras.

Afirma ainda que “desde o princípio a empresa colaborou ativamente com a polícia”. Ocorre que uma dessas jovens disse que, após ser estuprada, entrou em contato com a 99Pop, sendo que a empresa teria demorado a prestar-lhe o socorro necessário. E, somente após a intervenção dos órgão de segurança é que a 99 teria colaborado com as investigações.

A nota do aplicativo termina com um genérico “a empresa lamenta profundamente esses casos e outros casos de violência contra a mulher”. Além de “lamentar” essa multinacional bilionária tem de se responsabilizar pelo que acontece com seus clientes, devido a terríveis, porém banais, falhas em seus sistema de segurança.

Mas, em seu portal, a 99 promete “atenção e dedicação total para passageiros e motoristas”, uma “tecnologia de ponta” e “equipe trabalhando 24 horas por dia para a sua segurança”. Diz ainda que “todos os todos os perfis são monitorados por inteligência artificial”.

Para se ter ideia de como são palavras vazias, basta dizer que a conta usada pelo estuprador tinha o número de uma placa de motocicleta. Uma simples pesquisa no sistema de cadastros veiculares da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) poderia mostrar que a placa não era de um carro. Mesmo quem não é advogado, pode ver que cabe um bom processo contra a empresa.

A Uber não fica atrás em alardear a sua segurança, garantindo haver “recursos de tecnologia para a segurança de todos”, sendo “segurança de usuários e motoristas parceiros” prioridade para a empresa. “Por isso, desenvolvemos tecnologias e recursos que ajudam milhões de pessoas a viajar com segurança todos os dias”.

Virtualmente, tudo bonitinho, na prática é o salve-se quem puder.
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Publicado na edição de hoje (a série continua amanhã, 18/7/2018):

Falso motorista de app é investigado por 4 casos de estupro
Conta usada em crime tinha placa de motocicleta
Cronologia de um crime

 

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