Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião do O POVO, edição de 30/8/2018

O que querem as mulheres?

Qualquer eleitor mais ou menos atento já deve ter observado que vários concorrentes à presidência da República escolheram mulheres para figurar como vice em suas chapas. Fiz essa anotação em artigo publicado nesta página (9/8/2018), mostrando que os principais candidatos valeram-se dessa prática.

Entre as 13 candidaturas, cinco terão vices mulheres, quando Manuela d’ Ávila (PCdoB) assumir o papel que lhe foi reservado na chapa do PT. Ou seja, ainda que as mulheres tenham se “empoderado”, como exige a palavra da moda, elas ainda assumem papel secundário na política, noves fora o caso de Marina Silva (Rede)

Os candidatos hão de negar, mas a prática faz lembrar aquela frase cheirando a naftalina (os mais jovens nem saberão que produto é esse), repetida por “homens de sucesso”, como forma de dar algum crédito às suas digníssimas: “Atrás de todo grande homem existe uma grande mulher”.

Com votos, acrescento.

As mulheres representam 52,5% dos eleitores e demoram mais a decidir o voto. Na última pesquisa Datafolha (22/8/2018), 25% delas declararam disposição em anular a cédula ou votar em branco, contra 18% dos homens. A dificuldade em lidar com temas do “mundo feminino”, como diria o antediluviano presidente Michel Temer, parece ser motivo para que elas tomem distância dos candidatos mais grosseiros.

Jair Bolsonaro (43%) e Lula (33%) são os candidatos mais rejeitados entre as mulheres. Em contrapartida, Lula receberia 39% dos votos femininos, o que ameniza sua rejeição, contra apenas 13% das intenções em Bolsonaro. O capitão ainda tentou indicar uma mulher como vice, Janaína Pascoal, a “musa” do impeachment, mas não teve sucesso. Foi obrigado a contentar-se com um general.

Para o psicanalista Contardo Calligaris, “colocar mulher como vice para atrair eleitoras é chamá-las de idiotas”. Ele diz ser “insultante” achar que elas “vão cair nessa”. (Universa, 24/8/2018)

Calligaris tem lá a sua dose de razão, de fato vice é uma posição secundária, mas os avanços também acontecem aproveitando-se as frestas que se abrem no sólido muro do machismo. As mulheres saberão aproveitá-las.

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