Parece que as pesquisas andam de mal com o governo do presidente Jair Bolsonaro. Recentemente a consulta XP/Ipespe mostrou que, pela primeira vez, desde que assumiu o cargo, o índice de “ruim e péssimo” (36%) superou o “ótimo e bom” (34%). Além disso, a mesma instituição divulgou que também cai a aprovação do governo Bolsonaro entre os agentes do mercado financeiro, que estiveram na linha de frente de sua eleição. A taxa de “ruim e péssimo” nesse setor pulou de 1% em janeiro para 43% em maio. A avaliação positiva, tanto na pesquisa geral quanto na limitada aos investidores, cai consistentemente desde de janeiro, ao mesmo tempo em que aumenta a apreciação negativa. (veja aqui)

Se a avaliação geral do governo é desfavorável, quanto a uma de suas principais propostas, a coisa está pior. Pesquisa realizada em março pelo Ibope, divulgada agora pelo portal G1, revela que a grande maioria da população é contra a flexibilização na posse de armas e, mais ainda, contra o porte de armamento de fogo.

Dos entrevistados, 73% manifestaram-se contrários à facilitação do porte para cidadãos comuns, com 26% dizendo-se favoráveis (1% não soube ou não quis responder). “Porte” refere-se ao direito de o cidadão carregar uma arma na cintura ou em seu veículo. Quanto à posse (manter uma arma em casa), 61% são contrários à flexibilização e 37% são favoráveis (2% não souberam ou não responderam).

Bolsonaro, eleito para governar o Brasil vem, cada vez mais, dedicando-se a agradar a sua claque. Pode-se argumentar que, ao tomar a decisão de facilitar a posse e o porte de armas, ele está cumprindo “promessa de campanha”. Ocorre que, de fato, há um certo percentual de eleitores que votaram nele devido às propostas mais “radicais” e pelo seu pendor à extrema direita. No entanto, um segmento mais relevante votou por opor-se ao PT, pelo descrédito nos políticos e por acreditar que Bolsonaro, de fato, representava uma “nova política”. Crença que vai se esvaindo rapidamente.

Os votos a favor das armas concentram-se no setor mais radicalizado e minoritário do bolsonarismo, que tende a defender o presidente em qualquer hipótese. Observe que foram 26% a se manifestarem a favor da ampliação da possibilidade do porte de armas. Já aqueles que consideram o governo positivo somam 34% (maio), mas, em janeiro o índice era de 40%, redução de 14 pontos percentuais em cinco meses. Isso mostra que a queda no apoio a Bolsonaro vai continuar, caso não haja algum fator importante que possa reverter a tendência. A meu ver, esse percentual de apoio incondicional deve estabilizar-se em torno de 20% de seu eleitorado.

Não é por acaso que com o Produto Interno Bruto (PIB) caindo e o desemprego aumentando, a única coisa que ocorre ao presidente é preocupar-se em retirar radares das estradas e com aumentar o tempo de validade das carteiras de motorista. Ele sabe que atende a um setor que gostaria de andar armado e, talvez, barbarizar no trânsito, sem o risco de levar multa.

A propósito, segundo publicou o jornal Folha de S.Paulo, o presidente Jair Bolsonaro, três de seus filhos e sua mulher, Michelle, receberam pelo menos 44 multas de trânsito nos últimos cinco anos, conforme registros do Departamento de Trânsito do Rio de Janeiro (Detran-RJ). A primeira-dama e o senador Flávio (PSL) estão acima de 20 pontos permitidos para o período de um ano, o que poderia resultar na suspensão do direito de dirigir.

A questão é saber até que ponto o governo está disposto a continuar agindo dessa maneira, e se essa forma de governar é sustentável.

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>>A pesquisa do Ibope foi realizada entre 16 e 19 de março, ouvidas 2.002 pessoas em 143 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.

>> No G1.

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