Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião do O POVO, edição de 13/6/2019.

O jornalismo em sua essência

Depois da divulgação das mensagens trocadas pelo então juiz Sérgio Moro e procuradores de Curitiba, pelo aplicativo Telegram, surgiu um debate sobre a suposta ilegalidade que teria sido cometida pelo portal de notícias The Intercept Brasil. Mistura-se, de forma proposital ou não, duas coisas diferentes: a coleta do material e a publicação das mensagens.

Se os textos, áudios e vídeos foram obtidos de forma ilegal, somente uma investigação poderá determinar. Pode-se imaginar, inferir, supor e até acreditar que os dados foram sacados ilegalmente mas, afirmar com certeza, ainda não.

Quanto à publicação das mensagens pelo Intercept, não existe ofensa a nenhuma lei, ainda que os dados tenham sido colhidos por meios ilegais, pois trata-se do direito constitucional do exercício da liberdade de imprensa. Da mesma forma, o segredo de fonte, o direito de preservar a identificação de quem repassa informações ou documentos a jornalistas, também é garantido pela Constituição brasileira, no seu artigo 5º, inciso XIV: “(É) assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. Assim, é absolutamente seguro afirmar que o Intercept não ofendeu nenhuma lei ao publicar a reportagem e nem ao classificar a sua fonte como “anônima”, recusando-se a acrescentar qualquer detalhe que pudesse levar à sua identificação.

Além desse argumento da “ilegalidade” levanta-se contra o jornalista americano Glenn Greenwald, editor do Intercept, a acusação de ser ele “estrangeiro”; alguns propondo a sua expulsão do País. Greenwald também é atacado por sua orientação sexual, com o “agravante” de ser casado com David Miranda, deputado federal do “esquerdista” Psol-RJ.

Mas o fato, é que nenhum dos envolvidos nas conversas comprometedoras desmentiu qualquer uma das informações publicadas. E é aí que está a essência do jornalismo: expor a verdade. Principalmente aquelas que os poderosos querem esconder.