Uma das primeiras más impressões que tive da “República de Curitiba” foi uma foto – se não me engano capa de uma revista – na qual nove procuradores da Lava Jato deixaram-se fotografar como se fossem estrelas de um filme de ação: alinhados em forma de “V”, com Deltan Dallagnol na ponta, estavam todos paramentados com a roupa de combate (o indefectível terno), apesar de alguns ostentarem uma saliente barriguinha, talvez incompatível com o papel de heróis cinematográficos que quiseram sugerir.

Está certo que a Lava Jato necessitava da imprensa para dar suporte às suas iniciativas, inclusive aquelas eivadas de irregularidades, como se comprova agora. Mas, para isso, era preciso aceitar esse papel ridículo, muito provavelmente sugerido pelo fotógrafo, pelo repórter ou pelo editor? O fato é que os procuradores, talvez docemente constrangidos, aceitaram fazer o papel de jecas para ganhar destaque. Aceitar proposta para posar dessa maneira diz muito sobre a personalidade de quem o faz, em vista dos objetivos que pretende alcançar.

E uma das metas de Deltan Dallagnol era enriquecer com a fama adquirida de caçador de corruptos (já houve um que era “caçador de marajás”), contando vantagens em palestras, como fica clara nas recentes mensagens divulgadas pela plataforma jornalística The Intercept Brasil. Em um dos diálogos com a sua mulher ele deixa isso muito claro: “Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking (contatos) e visibilidade”.

Mas, apesar das evidências, ele ainda conta com a defesa de seu velho companheiro de Lava Jato, o ex-juiz Sérgio Moro. Conforme relatou a jornalista Bela Megale, do O Globo, que flagrou uma conversa dele com o colega Paulo Guedes (ministro da Economia) em um restaurante de Brasília, Moro justificou as peraltices seu pupilo com estas palavras: “Deltan pensou em criar uma empresa para diminuir a tributação sobre as palestras e falam que ele queria lucrar com a Lava Jato? O que que é isso? Absurdo”.

Será que o ínclito ministro da Justiça diria o mesmo das palestras de Lula? Não. Mas quanto aos possíveis e supostos malfeitos de FHC, será necessário investigá-los? Não. Melhor “não melindrar um aliado importante”.

A propósito, a jornalista escreveu que, quando visita o restaurante de sua preferência, Moro costuma pedir uma garrafa de vinho e “dois chopinhos para arrematar”. É uma boa quantidade de álcool. Será que ele também tem o hábito de beber?