Mauro Paulino e Alessandro Janoni assinaram artigo no jornal Folha de S. Paulo com o título “Com tom belicoso, Bolsonaro arrisca pregar apenas para convertidos”. O texto analisa a mais recente pesquisa do instituto Datafolha (do qual ambos são diretores), que revela o crescimento da desaprovação do governo Bolsonaro, mesmo em segmentos fiéis ao presidente, isto é, “entre moradores do Sul e os que têm altas renda e escolaridade – perfis que o elegeram com expressivas taxas de apoio”. (Veja links abaixo).

O texto segue a linha do título, qual seja, a necessidade de o chefe do Executivo “adequar-se ao cargo de presidente da República, caso queira melhorar sua imagem junto aos brasileiros”, pois, ao “intensificar essa característica (belicosa) nos últimos meses, Bolsonaro comprometeu parcela simbólica de seu capital eleitoral”.

Para confirmar essa hipótese – de que Bolsonaro “ganharia”, caso moderasse a sua linguagem e evitasse suas propostas mais estrambóticas – os articulistas reproduzem o resultado de alguns itens da pesquisa, argumentando que a “verborragia presidencial é abominada pela grande maioria da população e alcança quase 90% de reprovação quando se vale, por exemplo, de conteúdo escatológico”.

Além disso a pesquisa mostra reprovação a “marcadores de preconceito e nepotismo”, como nas frases sobre os “governadores da Paraíba (Nordeste)” e a indicação do filho para embaixada brasileira nos EUA, com rejeição de 70%. Bolsonaro é afetado também, dizem Paulino e Janoni, na polêmica sobre as recentes queimadas na Amazônia. Para eles, a desqualificação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), passando pelos registros da Nasa sobre o desmatamento, até o escurecimento do céu na tarde de 19 de agosto na cidade de São Paulo, pesaram contra o presidente. “Gatilhos não faltaram para que diferentes setores da sociedade despertassem para o problema” do meio ambiente, escrevem os articulistas.

A análise está correta, mas é de se observar que, apesar de a aprovação do governo Bolsonaro ter caído, ela se mantém no índice de 29%, percentual bastante representativo, apesar das atitudes aparentemente desastradas do presidente.

Há algum tempo defendo a tese que Bolsonaro age propositalmente ao regurgitar seus despautérios, portanto é uma estratégia para tensionar o ambiente, deixando seus seguidores de prontidão. A ele não interessa falar para “todos os brasileiros”, mas para o setor mais radicalizado de seus apoiadores, que o seguirão em qualquer hipótese.

Mesmo que o índice de quem aprova o seu governo caia para 20% – a meu ver recuará até esse percentual – ele deverá manter a tática dos discursos agressivos, talvez tornando-os ainda mais ferozes. Assim, Bolsonaro não pode mudar agora o seu comportamento, pois perderia o apoio da extrema direita, e teria dificuldade em readquirir o apoio de setores mais “refinados” que, envergonhados procuram agora se afastar do presidente, depois de tê-lo levado docemente constrangidos (afinal, era preciso derrotar o pêtê) à cadeira presidencial.

A vanguarda desse setor já está apostando em candidatos mais limpinhos e cheirosos, como o apresentador da Globo Luciano Huck e o governador de São Paulo, João Doria, como alternativas para 2022.

Enquanto isso, Bolsonaro continuará agindo como chefe de uma facção de extrema direita – que irá defendê-lo quanto mais odioso for seu discurso -, ofendendo os limites da democracia. Sobre essa base sectária, ele poderá lançar seus tentáculos sobre as instituições, procurando controlá-las, submetendo-as ao seu grupo. Se conseguir esse intento, talvez volte a atrair até mesmo alguns dos setores que hoje se afastam dele, para os quais a democracia pouco importa, frente aos dividendos que poderão obter apoiando um governo com poderes autoritários.

De qualquer modo, a elite brasileira fica com duas possibilidades: pode voltar a enamorar-se de Bolsonaro, pois o divórcio ainda não foi assinado, e, enquanto isso, vai dando corda às iniciativas dos rapazes de roupas de grife: Luciano Huck e João Doria.

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>>> Reprovação de Bolsonaro cresce para 38% em meio a crises, diz Datafolha
>>> Artigo de Mauro Paulino e Alessandro Janoni