Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, O POVO, edição de 19/9/2019.

Atitude suspeita

Nenhuma das versões colhidas pelo repórter Igor Cavalcante, na notícia “Adolescente de 14 anos morre após ser baleado durante abordagem policial no Vicente Pinzon” (14/4/2019), justifica a atitude do PM que disparou a arma.

Conforme testemunhas disseram ao jornalista, os adolescentes estava em uma festa na Praça do Mirante e teriam se assustado com a abordagem policial. Com medo, saíram correndo, e o agente disparou a arma.

Em outro relato, moradores mencionaram que estava na praça “só a molecada de 14, 15 anos”, que tem o hábito de reunir-se ali. No dia, o local estava mais cheio, devido à festa. Os policiais teriam chegado de moto, mandando o grupo se dispersar. Quando os jovens estavam saindo, houve o tiro.

Na terceira versão, da polícia, a equipe de PMs avistou o grupo em “atitude suspeita” e, durante a abordagem os militares teriam sido recebido a pedradas. Nesse momento, um soldado fez o disparo para o chão, a bala teria ricocheteado, acertando mortalmente o adolescente.

Mesmo um leigo em segurança pública há de ter a noção que disparar uma arma de fogo deveria ser o último recurso a ser utilizado em uma ação policial, nunca o primeiro, como parece ser recorrente. Nem mesmo uma suposta reação agressiva dos jovens seria motivo suficiente para a reação desproporcional.

No ano passado anotei pelo menos seis casos de abordagens desastrosas da Polícia, que terminaram em morte. E cada leitor poderá lembrar-se de pelo menos um caso emblemático, em qualquer época.

Assim, esse tipo de abordagem violenta não é fortuito, é um método, pelo qual precisam responder o comandante da PM, Alexandre Ávila, o secretário da Segurança Pública, André Costa (dono de um discurso belicoso) e o governador Camilo Santana (PT).

E esse procedimento tem um alvo: volta-se contra aqueles que vivem em constante “atitude suspeita”: os negros e os pobres, que continuam sendo vistos como “classes perigosas”.