Reprodução do artigo publicado no O POVO, editoria de Opinião, edição de 3/10/2019.

Lula semilivre

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ser um dos sujeitos mais impertinentes do mundo: incomodava seus adversários quando livre; continuou atenazando-os depois de preso e agora acossa aqueles que querem impor-lhe uma semiliberdade desonrosa, segundo ele interpreta.

Os procuradores parecem ter criado procedimentos específicos para lidar com o caso dele. Foi assim no processo do “triplex do Guarujá” e novamente quando tomam a iniciativa de pedir progressão de pena, supostamente para beneficiá-lo.

A equipe de Curitiba sempre agiu de forma oposta a esse procedimento, emitindo pareceres negativos para evitar a progressão de pena de réus da Lava Jato. Por que, de repente, preocupam-se com a soltura de Lula? Teria Deltan Dallagnol feito autocrítica, depois de entregar-se a orações, reconhecendo seus abusos e sendo iluminado pela benevolência? Duvidoso.

O mais provável é que a força-tarefa da Lava Jato está prevendo outras derrotas no Supremo Tribunal Federal (STF), que podem beneficiar Lula. A principal peleja é a que pede a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, que pode cancelar o processo do triplex.

Vários sinais mostram que essa possibilidade é real, depois que o STF formou maioria decidindo que o réu delatado no processo tem de falar por último – depois das alegações do réu delator – para ficar garantido o amplo direito à defesa, o que era negado por Moro.

Em assim sendo, devem ter pensado os procuradores da República de Curitiba, melhor tomar a iniciativa, tentando demostrar que nada mais são do que fiéis servidores da legalidade, submetendo-se mesmo às leis que beneficiam Lula. Ou seria mais uma tramoia para levar Lula a uma penitenciária comum?

O fato inescapável é que o MP em Curitiba atuou como organização política para condenar o ex-presidente e volta a agir da mesma forma, ao tomar a iniciativa de pedir que ele passe a cumprir pena no regime semiaberto.

Porém, a estratégia está prestes a ser melada pela obstinação de Lula, um sujeito para o qual o “lugar de fala” é onde quer que ele esteja.

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