Reprodução do artigo publicado na editoria de Opinião, O POVO, edição de 24/10/2019.

Brasil está na fila das revoltas

Em dois outros artigo que escrevi para o meu blog nesta semana anotei que a desigualdade, o sufoco por qual passam os pobres e as classes trabalhadoras – sempre chamados a pagar a conta das crises -, é que levam a manifestações tão díspares como as acontecidas na França (“coletes amarelos”), no Equador, no Chile ou no Líbano.

Porém, existe outro componente: a raiva difusa e a desconfiança que as pessoas sentem dos políticos e de seus privilégios, que são os manipuladores de um sistema no qual a maioria não se sente representada. No Líbano essa percepção acudiu o primeiro-ministro, Saad Hariri, que anunciou a redução em 50% do salário de ministros e legisladores. No Chile, o presidente Sebastián Piñera anunciou um pacote de medidas sociais de fazer horror a qualquer liberal, incluindo o aumento da taxação aos super-ricos.

Essa realidade somente é vista pelo poder quando as cidades estão em chamas. Mas, em condições assim, todo recuo parece pouco para os manifestantes, pois cria-se uma poderosa onda de energia difícil de parar – e a tendência é a radicalização. Talvez os esses movimentos venham a se diluir pelo cansaço, mas se as condições permanecerem as mesmas, as bombas continuarão armadas, prontas para novas explosões.

Essa lição deveria ser aprendida no Brasil. Congressistas e governo deveriam podar seus próprios privilégios, cortando despesas no Legislativo, no Judiciário e no Executivo, para ter moral para pedir “sacrifício” à população. Mas eles se negam a abrir mão de milionários “fundos” para uso político e a limitar a estrutura dos poderes. Preferem, municiados com um discurso hipócrita, avançar no bolso dos pobres, com reforma da Previdência e cortes nos programas sociais.

Agora, está em pauta a reforma tributária. Mas é de se duvidar que a injusta estrutura brasileira, que taxa os pobres e livra dos impostos os bilionários, seja virada de cabeça para baixo.

Anotem: o Brasil está na fila das revoltas.