Uma das três secretárias de Aracati que deixaram o cargo em menos de 90 dias de gestão do prefeito Bismarck Maia (PTB), Sofia Lerche critica clientelismo recorrente nos municípios do interior do Estado em artigo na edição do O POVO desta segunda-feira, 17. A ex-secretária de Educação do governo de Lúcio Alcântara comandava a pasta no município.
“De uma maneira geral, os pequenos interesses perpassam o cotidiano da vida no território. Terminadas as eleições, a partilha começa e se prolonga pelo curso da nova gestão”, explica. “Em minha breve experiência como secretária da Educação de Aracati, pude perceber com clareza a força desses pequenos interesses”.
“Vigias, merendeiras, professores, diretores e tantos outros que compõem a força de trabalho da área são o alvo preferencial de barganha. Mas, em verdade, tudo é objeto de negociação na dança das cadeiras e dos interesses reinantes no poder local”, continua.
A professora de pós-graduação em Educação na Universidade Estadual do Ceará (Uece), diz que a área, “pelo elevado percentual de recursos aplicados em pessoal, transporte, merenda, livro didático, manutenção de rede física e outros serviços, é alvo preferencial dessas investidas. É o botim, do qual todos querem um quinhão”.
Lerche cita algumas situações enfrentadas por ela enquanto gestora de Aracati: desde de bilhetinhos com indicações políticas para cargos, a “currículos sorrateiramente apresentados depois de audiências” e um servidor que “insistiu em indicar nomes que, a seu juízo, deveriam ser afastados de uma dada escola”.
Apesar disso, não faz referência a Bismarck nem cita nominalmente quais políticos e partidos teriam tentado influenciar na sua gestão. Além dela, pediram exoneração de pastas do município o delegado da Polícia Civil César Wagner, que comandava a Segurança, e a ex-secretária estadual de Cultura, Cláudia Leitão.