Dados do Portal da Transparência confirmam repasses do governo para JBS (Foto: Reprodução/Governo do Ceará)

O governo do Ceará liberou, entre junho e outubro de 2014, nove pagamentos somando R$ 111,6 milhões para empresas do grupo JBS no Estado. Na manhã desta segunda-feira, 22, o ex-governador Cid Gomes (PDT) fez entrevista coletiva sobre o caso e negou que pagamentos tenham relação com doações da empresa para campanha de Camilo Santana (PT) ao governo.

A informação tem base no Portal da Transparência do Estado. Segundo a página, pagamentos vieram da “gestão da concessão de incentivos” do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) do Ceará. Na semana passada, o empresário Wesley Batista, um dos donos da JBS, disse ter pagado propina de R$ 20 milhões em troca da liberação de R$ 110 milhões em créditos da empresa com o Estado.

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Segundo o delator, dinheiro iria para campanha de Camilo e de aliados de Cid no Estado. De acordo com o Portal da Transparência, o 1º pagamento, feito diretamente à JBS S.A., foi liberado em junho de 2014, mesma época em que Wesley disse ter ocorrido a primeira reunião. Demais repasses, em R$ 97,5 milhões, foram feitos para a Cascavel Couros, empresa do polo calçadista da JBS instalada no Ceará, entre agosto e outubro daquele ano.

Os dados mostram, no entanto, uma contradição no depoimento de Wesley Batista. Em sua delação, o empresário afirma não ter recebido qualquer repasse do governo entre 2011 e 2013. O Portal da Transparência registra, no entanto, repasses em R$ 12,3 milhões em 2013. Entre 2015 e 2017, no entanto, a empresa não recebeu quaisquer repasses do Estado.

“Não houve troca de favores”

Governador negou acusações em entrevista coletiva (Foto: Fábio Lima/O POVO)

Governador negou acusações em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (Foto: Fábio Lima/O POVO)

Em entrevista nesta segunda-feira, o ex-governador Cid Gomes se disse “veementemente indignado” com acusações e rejeitou que qualquer doação recebida da JBS tenha vínculo com ações do governo. “Não é possível fazer vinculação de qualquer tipo para esses pagamentos. Isso não é da minha índole, jamais foi feito. Nós temos critérios e regras para campanhas”.

Cid admite que repasses podem ter tido um “pico” em 2014, mas afirma que este aumento se deu por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que proíbe gestores de deixarem dívidas acumuladas para mandatos posteriores. “Custo a acreditar que uma empresa grande como a JBS ficaria refém de um governo por uma coisa dessas, sendo que era um direito judicial dela”.

“É verdade que houve contribuição, mas sem qualquer vinculação com prestação de serviços do governo ou dos mandatos que tivemos. Ao longo dos últimos anos, todas as nossas contribuições sempre tiveram a orientação de que fosse tudo dentro da lei (…) tanto que todas as nossas contas foram aprovadas sem questionamento pela Justiça Eleitoral”, diz Cid.

O ex-governador confirmou ainda que se reuniu com os irmãos Joesley e Wesley Batista em 2014. Ele destaca, no entanto, que a reunião tratou da possível instalação de uma fábrica da Vigor no Ceará e de uma possível candidatura de um dos irmãos ao governo de Goiás.

Wesley Batista será processado

O ex-governador afirma ainda que irá à Justiça contra Wesley Batista, a quem pretende processar por calúnia e difamação. “Essas denúncias foram feitas para obter alguma vantagem em delação premiada. Um deles gravou o presidente, gravou o candidato da oposição, e esse sujeito (Wesley), precisando de algum fato, deu conta de inventar mentiras contra mim”, disse.

“Constituirei um advogado e irei processar o delator por calúnia e por difamação”, disse Cid. Participaram da coletiva do ex-governador diversos parlamentares do Estado, incluindo os presidentes da Câmara Municipal de Fortaleza, Salmito Filho (PDT), e da Assembleia Legislativa, Zezinho Albuquerque (PDT).

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Carlos Mazza

Repórter do núcleo de Conjuntura do O POVO. Jornalismo de dados, reportagens investigativas, bastidores da política cearense. carlosmazza@opovo.com.br / Twitter: @ccmazza

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