Deputada Manuela d’Ávila e Fernando Haddad, vice de Lula, durante coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (Foto: Thalita Oshiro)

Em coletiva de imprensa no fim da manhã desta terça-feira, a deputada estadual Manuela d’Ávila (PCdoB-RS) afirmou que vai ocupar o posto de vice na chapa do PT à Presidência da República “em qualquer dos cenários”, com ou sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cabeça da composição.

Ao lado do coordenador da campanha Fernando Haddad, indicado pelo ex-presidente no último domingo como vice oficial, a parlamentar disse ainda que é natural que o ex-prefeito de São Paulo ocupe inicialmente o posto.

“Nós consideramos justo que o interlocutor do presidente Lula seja alguém militante do PT”, disse Manuela, que retirou sua candidatura ao Planalto tão logo comunistas e petistas acertaram um acordo também no domingo – o nome da parlamentar havia sido oficializado em convenção do partido dias antes.

Preso em Curitiba desde 7 de abril passado, Lula deve ser impedido pela Justiça Eleitoral de participar das eleições deste ano. Pela Lei da Ficha Limpa, nenhum postulante condenado em segunda instância está habilitado a se candidatar.

O ex-presidente teve sentença confirmada pela 8ª turma do TRF-4 por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex.

Pela primeira vez dividindo espaço ao lado de Manuela desde que a aliança entre PT e PCdoB foi anunciada, Haddad falou que será um prazer tê-la como vice. “Vamos estender um tapete vermelho pra Manuela ocupar o meu lugar na vice”, brincou, fazendo alusão à cor que é símbolo das duas legendas de esquerda.

As declarações dos dois candidatos – Haddad a vice e Manuela a “vice” do atual vice – escancaram a estratégia do PT: levar a candidatura de Lula até as últimas consequências, tentando garantir inclusive a presença do ex-presidente nos debates televisivos e na rádio, até que a Justiça Eleitoral indefira o nome do petista. O prazo derradeiro para registro dos postulantes é dia 15 próximo.

É quando deve entrar em campo, então, o ‘plano B’ da sigla, representado por Haddad. A admissão de que Manuela será vice em qualquer cenário, porém, antecipa a formação final dessa chapa, já que a impugnação de Lula é dada como certa.

O anúncio de Haddad como vice e o acordo com o PCdoB acertado nas últimas horas do domingo foram acelerados em virtude de uma discussão dentro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) segundo a qual a candidatura do PT poderia ser questionada juridicamente caso o partido não indicasse a chapa completa dentro do prazo das convenções partidárias.

Com a chapa virtualmente desenhada com Haddad e Manuela, todavia, a candidatura Lula corre o risco de se esvaziar, comprometendo a própria estratégia de defesa do petista e sua capacidade de transferência de votos.

Afinal, se Haddad é vice e deve assumir a titularidade com a saída de cena de Lula, e Manuela herdará o posto de Haddad em qualquer circunstância, Lula, a partir de agora, começou a sobrar na história.

O PT tem repetido que cabe a Haddad tão somente “vocalizar” a fala de Lula nos debates públicos, fazendo a defesa do projeto petista a ser apresentado nestas eleições.

É ingenuidade supor, no entanto, que os adversários do petista vão tratá-lo somente como um relações-públicas de Lula.

A partir deste momento, com o ex-presidente quase fora da partida e Haddad prestes a vestir a camisa do candidato a presidente, a artilharia dos concorrentes deve mirar no hoje vice.

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Henrique Araújo

Jornalista do Núcleo de Política do O POVO

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